Quero aqui relatar políticas públicas de saúde adotadas no São Lourenço, décadas de 1960 e 1970, sob a responsabilidade e iniciativa dos próprios camponeses, haja vista que os governos municipal (Caarapó), governo estadual (Mato Grosso) e governo federal (Brasil), se notabilizaram, nestas décadas pela quase total ausência ou omissão, em prestar serviços aos camponeses.
Em sendo assim, no São Lourenço, os camponeses se viram obrigados, eles mesmos, a formularem e executarem políticas públicas de saúde, as quais, em alguma medida permitiram fazer frente aos desafios e as demandas colocadas pela população. Lá existiram parteiras, benzedores e médiuns espiritas que se "viraram nos 30" para, em alguma medida curarem os enfermos. A Dona Pulcina, uma gigante neste míster: conhecia bem as ervas medicinais e suas propriedades, como prepará-las e as doses necessárias a serem ministradas aos enfermos, e acima de tudo, muita fé e persistência de que a medicação por ela recomendada, lograria êxito. Quem a visitou e chegou até a sua cozinha, com certeza flagrou inúmeros frascos e garrafas de remédios sob forma diversas (xarope, chá, água fluída ou benzida, esta última, benzida durante as sessões espíritas realizadas no Centro Espírita Allan Kardec). Em seu quintal também existia um herbário bem diversificado: losna, arruda, sabugueira, alecrim, babosa, erva de Santa Maria, etc.
Quando alguém aparecia enfermo, ela já dizia: pra verme tenho esse xarope; pra gripe tenho este daqui e assim para as demais enfermidades. Apenas para dar ênfase ao que estou relatando, me lembro, por exemplo que para combater verminoses: ela recomendava tomar xarope dos frutos do caraguatá; pra gripe, xarope de assa peixe; para tiriça ou amarelão, chá de picão. Para as doenças recorrentes, ela previamente e permanentemente dispunha de medicamentos prontos .
Me lembro que também havia benzimentos, um deles, por exemplo, o meu pai, penso que deve ter apreendido com a Dona Pulcina, para combater uma íngua e que consistia em pedir para a pessoa vitimada, ficasse descalça e ato contínuo contornava o pé da pessoa com uma faca, de forma a desenhar sob a forma de risco o pé do dito cujo. E então dizia íngua, e a vítima respondia: "ingua nenhuma" e este ritual se repetia, a semelhança da reza da Ave Maria. Só não sei dizer quantas vezes deveria ser repetida. Mas sei dizer que o meu pai fez este benzimento em mim, quando estava com uma íngua. Se fui curado pelo benzimento ou por ter se completado o ciclo de duração da mesma, isto eu não sei dizer, mas que a íngua desapareceu, isto eu asseguro, desapareceu; para cobreiro era recomendado procurar uma benzedeira e se banhar com água preparada com folha de mandioca.
Me lembro também que as crianças ao extraírem um dente de leite, o ritual era: lançar o dente e dizer, uma frase mais ou menos com os seguintes dizeres: "mourão me devolve outro dente são". Se alguém se lembra aqui no grupo de como era a frase, fique a vontade para expor aqui no grupo.