sábado, 27 de setembro de 2025

Assim era o lavrador


Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agrícolas eram realizadas manualmente com ferramentas rústicas: machado, foice, enxadão, enxada, máquina de semear manual (matracas), serrador, serrote e utilizando animais: cavalos ou bois.
Por conta disso, quem trabalhava no campo era denominado lavrador e a área cultivada era denominada de roça. Atualmente o termo lavrador e pouco utilizado e em seu lugar utiliza-se cada vez mais o termo pequeno agricultor e o termo roça esta sendo substituido pelo termo, agricultura familiar.
Os agricultores, atualmente, via de regra, já apresentam as mãos menos calejadas e a pele menos tostada e o vestuário já não se diferencia,tanto quanto se diferenciava no passado, do  utilizado pelo homem urbano.
O lavrador, normalmente tinha as mãos com calos enormes e, por vezes,  apresentando muitas rachaduras. Por conta disso era comum ter dificuldade de tirar a carteira de identidade, haja vista, ser impossível coletar as digitais dos lavradores. Me lembro da frase muito utilizado pelos lavradores em São Lourenço: "mas não precisamos de documento de identidade, basta olharem nossas mãos, quem quer que seja, saberá que somos lavradores."
Os adolescentes e rapazes então por conta do estado de suas mãos sentiam-se muito constrangidos quando  namoravam meninas ou moças por terem as mãos extremamente calejadas.
Evidentemente que ainda existe um contingente enorme de lavradores Brasil afora, todavia, cada vez mais, estão sendo substituídos pelo agricultor familiar em razão de as relações capitalistas estarem avançando no campo, impondo cada vez, a mecanização e a relação assalariada. Por conta disso os trabalhadores tipificados como: peões, arrendatários, meeiros, empreiteiros estão percentualmente em queda.




sexta-feira, 18 de abril de 2025

Coisas de Seo Epifânio

Coisas do Seo Epifânio:

a) que abóbora é comida recomendável para porco (se estivesse vivo, cor certeza, teria revisto esta opinião)

b) quando se referia a um produto barato (à preço de banana;  se estivesse vivo, acredito que pensaria diferente;

c) mandioca e milho, o pão do pobre;

d) que palavra dada é para ser honrada, não importa, o tamanho do sacrifício a ser feito para honrá-la:

e) não era apreciador de flores, todavia, não era tão radical, quanto o Tio Celso, caso a Lurdes as plantasse, não as arrancava;

f) adorava os sobrinhos e sobrinhas;

g) sabia ser irônico e sarcástico;

h) não era de bajular ninguém;

i) venerava os seus Pais (Augusto Ribeiro e Pulcina), se flagrasse alguém  criticando-os, batia "doido" e "colocado", neste alguém;

j) o Botafogo, era o seu time de coração. Todavia, torcia para todos os times cariocas quando em confronto com times de outros estados brasileiros ou de outros países;

l) a sua paixão pelo futebol fez com que se empenhasse em São Lourenço em tomar iniciativas para organizar times de futebol para adultos e crianças, assumindo, inclusive, a condição de dirigente e de técnico;



domingo, 13 de abril de 2025

Seo Epifânio, um exîmio contador de história e estórias,

 O Seo Epifânio Ribeiro, um contador de histórias e estórias, que, nós, os Ribeiros,no São Lourenço, que lá nascemos ou que lá moramos entre os anos 1960 e 1970, tivemos o privilégio de ouvi-lo contá-las. 

Epifânio Ribeiro era uma pessoa que leu muitos jornais, romances, livros de história, economia e literatura de cordel; que ouvia muito rádio e apreciava muito o cinema, dotado, diga-se de passagem, de uma memória fantástica, inúmeras vezes, contava histórias e estórias para filhos e sobrinhos. 

O interessante é que ele memorizava integralmente os textos lidos, especialmente, os poemas e os contava, reproduzindo-os integralmente e com uma entonação semelhante a de poetas e artistas, o que tornava as suas histórias contadas mais atraentes. Um contador e tanto de histórias. Lembrando que morávamos, então em um sertão, sem energia elétrica, sem acesso a bibliotecas, onde inexistia televisão, um contador de história, ainda mais tão qualificado como Epifânio Ribeiro, é algo que nos marcou muito e fez do Seo Epifânio, uma pessoa muito querida pelos sobrinhos e crianças. 

Me lembro de algumas das histórias que ele contava e aqui enumero algumas delas:

De cordel: Cancão de Fogo, Pedro Malasarte, Cangaço, Princesa da Perna Fina;

Romances: 50 Anos Depois, Nosso Lar, Os Miseráveis;

Filmes: me lembro que ele fazia muitas referências aos relacionados ao Tarzan, Os Dez Mandamentos, Sansão e Dalila;

Contribuiu, portanto, a meu ver para o apreço  à cultura, a leitura, as artes, para as então, crianças naquela quadra histórica.

Para finalizar, eu incontáveis vezes, acompanhado do meu mano, o Alberto, praticamente, todas as noites dormíamos, embalados pelas histórias contadas por Epifânio, atendendo a nosso pedido, histórias inúmeras vezes repetidas, mas nem por isso, menos atraente para mim e para o Mano.

sábado, 8 de março de 2025

Arlenio, meu professor de um nascente cursinho

 Esta foto, Leia e Suli, me remeteu a uma viagem no tempo, se não me falha a memória, no ano de 1982 ou 1983 (o Arlênio, Suli, talvez lembre-se do ano exato), quando eu resolvi fazer um cursinho de pre-vestibular. O Arlênio estava cursando agronomia no Núcleo Experimental de Agronomia (NECA-UFMS), e junto com outros acadêmicos e professores, resolveram montar uma cooperativa de cursinho pre-vestibulares que, se novamente - a memória não está me traindo -, as aulas eram ministradas nas dependências da Escola Estadual Castro Alves. Eu frequentei o cursinho desta cooperativa por um curto espaço de tempo,durante o qual, fui aluno do Arlênio.

Parece-me que a cooperativa não foi bem sucedida, e a iniciativa, acabou sendo interrompida. Em tempo: o Arlênio era bom para ministrar aulas.

Suli, se as informações estiverem erradas, o Arlênio, caso se lembre, poderá corrigí-las.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Saúde Pública no São Lourenço

Quero aqui relatar  políticas públicas de saúde adotadas  no São Lourenço, décadas de 1960 e 1970, sob a responsabilidade e iniciativa dos próprios camponeses, haja vista que os governos municipal (Caarapó), governo estadual (Mato Grosso) e governo federal (Brasil), se notabilizaram, nestas décadas pela quase total ausência ou omissão,  em prestar serviços aos camponeses.

Em sendo assim, no São Lourenço, os camponeses se viram obrigados, eles mesmos, a formularem e executarem políticas públicas de saúde, as quais, em alguma medida permitiram fazer frente aos desafios e as demandas colocadas pela população. Lá existiram parteiras, benzedores e médiuns espiritas que se "viraram nos 30" para, em alguma medida curarem os enfermos. A Dona Pulcina, uma gigante neste míster: conhecia bem as ervas medicinais e suas propriedades, como prepará-las e as doses necessárias a serem ministradas aos enfermos, e acima de tudo, muita fé e persistência de que a medicação por ela recomendada, lograria êxito. Quem a visitou e chegou até a sua cozinha, com certeza flagrou inúmeros frascos e garrafas de remédios sob forma diversas (xarope, chá, água fluída ou benzida, esta última, benzida durante as sessões espíritas realizadas no Centro Espírita Allan Kardec). Em seu quintal também existia um herbário bem diversificado: losna, arruda, sabugueira, alecrim, babosa, erva de Santa Maria, etc.

Quando alguém aparecia enfermo, ela já dizia: pra verme tenho esse xarope; pra gripe tenho este daqui e assim para as demais enfermidades. Apenas para dar ênfase ao que estou relatando, me lembro, por exemplo que para combater verminoses: ela recomendava tomar xarope dos frutos do caraguatá; pra gripe, xarope de assa peixe; para tiriça ou amarelão, chá de picão. Para as doenças recorrentes, ela previamente e permanentemente dispunha de medicamentos prontos .

Me lembro que também havia benzimentos, um deles, por exemplo, o meu pai, penso que deve ter apreendido com a Dona Pulcina, para combater uma íngua e que consistia em pedir para a pessoa vitimada, ficasse descalça e ato contínuo contornava o pé da pessoa com uma faca, de forma a desenhar sob a forma de risco o pé do dito cujo. E então dizia íngua, e a vítima respondia: "ingua nenhuma" e este ritual se repetia, a semelhança da reza da Ave Maria. Só não sei dizer quantas vezes deveria ser repetida. Mas sei dizer que o meu pai fez este benzimento em mim, quando estava com uma íngua. Se fui curado pelo  benzimento ou por ter se completado o ciclo de duração da mesma, isto eu não sei dizer, mas que a íngua desapareceu, isto eu asseguro, desapareceu; para cobreiro era recomendado procurar uma benzedeira e se banhar com água preparada com folha de mandioca.

Me lembro também que as crianças ao extraírem um dente de leite, o ritual era: lançar o dente e dizer, uma frase mais ou menos com os seguintes dizeres: "mourão me devolve outro dente são". Se alguém se lembra aqui no grupo de como era a frase, fique a vontade para expor aqui no grupo.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Quem se lembra desta marca?

 A pergunta , alguém  aqui do grupo se lembra desta marca de gordura e óleo. Eu, particularmente me lembro, ainda do tempo que morei no São Lourenço, de óleo e gordura Sol Levante, sendo utilizado pela vovó.




domingo, 22 de dezembro de 2024

Festejos Natalinos 02

Estamos mais uma vez muito próximo do dia 25 de Dezembro, e, por conta disso, me permiti retroceder cerca de 55 anos atrás e "aterrisar", num lugar denominado de São Lourenço, município de Caarapó (MS), um povoado que era habitado por mais de uma centena de camponeses. Este povoado, a exemplo do Brasil rural, nos idos dos anos de 1960 e 1970, era marcado por uma realidade cruel, e em sendo assim, a população tinha que de alguma forma buscar a autossuficiência, já que o poder público -  esferas municipal, estadual e nacional -, se caracterizavam por serem ausentes e omissos.

Em São Lourenço, os camponeses, tendo como alguns líderes, membros da Família Ribeiro, mas não só, buscaram assegurar a autossuficiência, bancando eles mesmos o oferecimento de certos serviços, tais como lazer (futebol, brincadeiras e bailes familiares, confraternizações); saúde (parteiras, benzedeiras, pequenas cirurgias de bernes, amputação de crianças que, porventura, nascessem com o sexto dedo, ministrar soro antiofídico em pessoas picadas por cobras). Na área de saúde, Ildefonso Ribeiro, Maria Sinhá, Dona Joana Lopes, Dona Filismina, dentre outros, foram o que atualmente é denominado de agentes de saúde, haja vista, terem contribuído para melhores índices de saúde pública em São Lourenço, claro que enfrentando algumas limitações, mas ainda assim, foram extremamente providenciais; abastecimento popular - merece registro o armazém de Augusto Ribeiro que supria os camponeses com alguns itens básicos: farinha de mandioca, querosene, açúcar, sabão, fósforo e outros itens); por um período muito curto,mas ainda que curto, digno de nota cito também o primo Eduardo, o qual se estabeleceu com bar/mercearia e contribuiu para otimizar os serviços oferecidos no setor de abastecimento popular em São Lourenço; religião: embora os camponeses, a maioria fosse adeptos do catolicismo, em São Lourenço, o Patriarca Augusto Ribeiro e os seus filhos Ildefonso e Antônio, o seu sobrinho Antônio Costa, e camponeses amicíssimos da Família (Seo Luizinho, Antônio de Paula, João Felício), contribuíram para a fundação do Centro Espírita Allan Kardec, e asseguraram um espaço para o exercício do espiritismo kardecista, patrocinando eventos diversos: palestras, estudos da filosofia, lazer, confraternizações, estas duas últimas atividades acabaram  atraindo, inclusive, os camponeses católicos e até mesmo, alguns raros evangélicos que lá residiram. O espiritismo kardecista, em São Lourenço, cumpriu um papel estratégico e decisivo no sentido de assegurar aos camponeses determinação, persistência e disposição para enfrentar tantas dificuldades, as mais variadas. Cimentou muita solidariedade e cumplicidade entre os camponeses.

É neste cenário que se inserem as comemorações do dia 25 de Dezembro. Nesta data Ildefonso Ribeiro, Antônio Ribeiro e Antônio Costa e outros, se notabilizaram por liderarem as ações para que no dia 24, véspera de natal, fossem realizados no Centro Espírita Allan Kardec, eventos festivos que consistiam na distribuição de presentes às  crianças, quando conseguiam donativos junto aos comerciantes dos quais eram clientes em Caarapó, Nova América e Dourados; realização de palestras e apresentações culturais (poesias, pequenas dramatizações - pecinhas teatrais. Me lembro de algumas pessoas que se destacaram nestas atividades: Nilza Lopes, Maria Socorro Ribeiro e Antônio Ribeiro, declamando poesias; Luiza Alexandre, Alberto Ribeiro (meu irmão), por exemplo, interpretando melodias natalinas. A Lurdinha Ribeiro que já naquele período era uma evangelizadora também se envolveu muito na organização das atividades a serem realizadas, nestas celebrações natalinas. Poderia aqui elencar outras ações e pessoas, mas fico por aqui.

Para concluir, afirmo estes eventos  festivos do natal em São Lourenço,fechavam com chave de ouro, cada ano, por isso, inesquecíveis para quem em alguma medida esteve envolvido, seja como protagonista ou como mero espectador.

Assim era o lavrador

Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agríc...