DIVINO EM SUA BICICLETARIA,
AVENIDA WEIMAR GONÇALAVES
DOURADOS (MS)
Divino Cláudio da
Luz, 61 anos, nascido em São Paulo, chegou para morar em Café Porã[1], no dia
02 de agosto de 1960, então uma criança. O seu pai chegando ao Café Porã, como
não poderia deixar de ser, foi trabalhar com o cultivo do café[2], na
condição de arrendatário.
Divino tendo ido
morar em Café Porã, depois de algum tempo, acabou por conhecer praticamente
todos os moradores do São Lourenço, especialmente, Epifânio Ribeiro. O relato feito
por Divino, mesmo não tendo sido morador
de São Lourenço e nem trabalhado nas terras pertencentes à Família Ribeiro, foi incluído, amigo leitor, porque, o Sr. Sebastião
Ferro (pai de Divino), morava há cerca de 300 metros da nascente do Córrego São
Lourenço, logo permitirá a você compreender um pouco mais sobre este lugar e a sua gente.

Este córrego é peça chave para a compreensão do processo de ocupação
e do comportamento dos camponeses residentes em São Lourenço e adjacências.

Enio Ribeiro (eu), Córrego São Lourenço,
09/02/2020
Neste relato, o
Divino que conta com uma memória fantástica, não se limitou a relacionar os
fatos, fez questão de discriminar as datas em que os mesmos ocorreram. Relatos que permitirão a você, leitor,
compreender um pouco mais sobre São Lourenço, história que Divino a contou sem
parar de trabalhar, andando de um lado a outro em sua bicicletaria, concertando e atendendo
simultaneamente, os seus clientes. Aliás, o Divino é uma pessoa inquieta, fala
atropeladamente, ora rindo, ora ficando bem sério e declarou ser apaixonado
pela profissão que escolheu, qual seja, mecânico de bicicletas. Pois bem,
feitas estas considerações, descreverei o teor da narrativa feita a mim pelo
Divino.
Sebastião Adelino da
Luz (pai do Divino), conhecido popularmente como Sebastião Ferro, possuía uma
bicicleta brasiliana, ano 1958, na qual, fez longas pedaladas em Café Porã, São
Lourenço, Caarapã, Laguna, Nova América, Liberal, Pindaivão, Cerrito e a Aldeia
Indígena Tatupiré. Nestes passeios - acrescentou Divino -, “o meu pai me
levava, o que me permitiu conhecer os moradores desta região, dentre eles, os
membros da Família Ribeiro”.
Divino revelou que
além de pedalar, uma barbaridade pela região, o seu pai, em sua folclórica bicicleta
brasiliana, era um exímio capador de porcos, habilidade que o fez muito conhecido,
popular e muito solicitado pelos camponeses de Café Porã, São Lourenço e região.
Aliás, Sebastião Ferro, ressaltou Divino, estava sempre pronto para castrar
algum animal. Não cobrava por tais serviços, os realizava pelo prazer em
demosntrar o quanto era habilidoso na castração de suínos.
Divino disse que
existiu em Café Porã, uma aldeia indígena, denominada de Tatupiré, cujos
indígenas transitavam frequentemente por toda a região. Que Sebastião Ferro,
inúmeras vezes contratou a mão de obra indígena para trabalhar no desmatamento[3] das terras
que arrendara para plantar café e que o
seu pai, frequentemente, a semelhança
dos demais camponeses que contratavam mão de obra indígena para a lida na lavoura,
oferecia cachaça para os indígenas
trabalharem, já que, corria de boca em boca que, sob o efeito do álcool, estes
eram mais produtivos. Os proprietários podiam deixar faltar alimentos, mas aguardente [4], não podia faltar (risos).
Naquele período
histórico, a caça era abundante na região, logo a alimentação para os trabalhadores
indígenas não exigia muita preocupação. Estes eram exímios caçadores, se
internavam nas matas e abatiam pacas, veados, perdizes, codornas, etc., logo
não era preciso se preocupar com a alimentação dos mesmos. Mas Sebastião Ferro, em alguns momentos, também
recorreu a mão de obra paraguaia.
Sobre o Córrego São
Lourenço, Divino relatou que por ter morado muito próximo de suas nascentes,
muitas e muitas vezes foi até as mesmas brincar. Do Córrego São Lourenço
afirmou que guarda saudosas lembranças, já que neste córrego, pescou, brincou,
tomou banho, etc., viveu experiências extremamente marcantes em sua infância.
Sebastião Ferro morou
em Café Porã até dia 22/09/1972, sendo que neste mesmo ano mudou-se com a
família para Dourados. Sete dias depois, 29/09/72, Divino começou a trabalhar
como empregado na Bicicletaria Universal[5],
localizada na Avenida Marcelino Pires, na qual, trabalhou até 1985. Depois
disso estabeleceu-se como proprietário de uma bicicletaria na Avenida Marcelino
Pires e ainda, em 1985, para ser mais exato, 29/03/1985, instalou-se
definitivamente com a mesma na Avenida Weimar Gonçalves Torres, endereço em que
se encontra até hoje.
O Divino é uma figura
folclórica, palmeirense apaixonado e zoador. Adora falar de esporte, política e
religião. Aliás, um católico muito dedicado. Sobre estes três assuntos, quem se
dispuser a ir até a sua bicicletaria, se tiver gás, poderá conversar o dia
todo. É uma prosa sem fim. Aliás, o meu irmão o Paulinho, botafoguense doente,
frequentemente vai até a bicicletaria do Divino, tendo ou não necessidade de
consertar a sua bicicleta. E aí, imaginem a conversa que rola entre os dois.
[1]
Café Porã, como o próprio nome sugere, era grande produtor de café e limita-se
com o São Lourenço;
[2] Divino relatou que no período
descrito, somando-se as plantações de todos os cafeicultores, em Café Porã,
existiram 1.700.000 mil pés de café plantados.
[4] Fornecer cachaça aos
indígenas era e é proibido por lei. Os camponeses, porém, ignoravam tal
legislação, de um lado porque não existia fiscalização rigorosa e também porque faltava sensibilidade aos camponeses de perceberem os trabalhadores indígenas como sendo seres humanos, portanto, iguais direitos aos trabalhadores não indígenas;
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