terça-feira, 21 de abril de 2020

A BONITA HISTÓRIA DE VIDA DO TIO DÉ

Há dozes anos atrás, faleceu em Dourados, Ildefonso Ribeiro da Silva - popular Tio Dé -  o filho caçula de Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, tendo como causa uma cirurgia de ponte de safena, a que teve que ser submetido, e,  após alguns dias, após a referida cirurgia, veio a óbito.
Mas o que me motivou a fazer esta postagem, de maneira alguma, é ficar lamentando, até porque o Tio Dé teve uma passagem por este Planeta, muito bem  aproveitada para vivê-la de maneira muita dígna, solidária e, recorrendo a vovó Pulcina, eu diria:  como um espírito de luz.
Aproveito aqui para apresentar algumas reminiscências sobre o Tio Dé. Me lembro que o meu pai dizia que desde criança, ele era hostilizado por alguns dos irmãos, haja vista que se dedicava a cuidar das galinhas e outras atividades não desempenhadas pelos demais irmãos, inclusive, por eles desprezadas. Estas atividades o Tio Dé,  as desempenhou até por ser o caçula. Mas vocês, queridos parentes, sabem como é o ser humano e,especialmente, os irmãos adoram espezinhar uns aos outros, e diziam que o Tio realizava atividades femininas. Não se esqueçam que estes fatos ocorreram especialmente na década de 1940, período que vocês podem imaginar o quanto o machismo imperava no Brasil. Se até hoje Século XXI, o machismo é enorme, imagine naquele período histórico!!!!
No São Lourenço, o Tio Dé, acabou desempenhando diversas atividades, exceto as de lavrar a terra, atividade desenvolvida pelos demais irmãos (Antonio, José, Epifânio, Celso e Antônia e o pai deles,  Augusto Ribeiro). Em São Lourenço, apesar de ser uma comunidade rural, uma divisão social do trabalho teve que ser adotada, cabendo ao Tio Dé, ministrar aulas e administrar a Escola Rural Mista de São Lourenço, já que na mesma além de professor era o seu diretor e secretário; ordenhar e cuidar do pequeno rebanho bovino; desempenhar um papel de agente de saúde, realizou, inclusive, pequenas cirurgias, tais como: amputar o dedo das crianças que nasciam com o sexto dedo em uma das mãos ou pés, bernes, tumores, aplicar injeções nos camponeses, injeções que naquele período histórico eram muito mais recorrentes do que atualmente; também, previdentemente, tinha soro antiofídico em casa, e sempre que alguém, era picado por uma serpente, o primeiro socorro era buscado junto ao Tio Dé; também juntamente com Antônio Ribeiro, Antônio Costa e João Felício administrava o Centro Espírita Allan Kardec; cumpriu outro papel importante, qual seja, a de ler e redigir cartas para muitos camponeses, já que muito deles, todos os membros da família eram analfabetos e quando recebiam alguma correspondência ou queriam se corresponder com algum parente residente em outro lugar, o faziam por cartas, e para este mister, procuravam Ildefonso Ribeiro.
Sobre esta divisão social do trabalho contribuiu e muito, o fato de naquele período histórico, a prestação de serviços por parte da Prefeitura Municipal, primeiramente de Dourados já que, Caarapó até 1958 era distrito de Caarapó e depois de 1958 pela própria Prefeitura Municipal de Caarapó, não se verificava. Sendo assim, os camponeses, não tiveram como alternativa a não ser se virarem da forma como fosse possível, buscando ser autossuficientes, assumindo diversas funções, dentre elas a de gestores da escola, agentes de saúde, assistente social, sendo que o Tio Dé, apresentou-se muito versátil,  uma espécie de bombril, isto é, de  "Faz Tudo".
Por tudo isso disse, ao iniciar esta postagem, não estou aqui para lamentar-se e sim para reverenciar o Tio Dé, um grande homem, que soube enaltecer a Família Ribeiro.

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