Em 1973, o meu pai
me matriculou no curso de Radiotécnico a distância, oferecido pelo Instituto
Universal Brasileiro (IUB), similar aos cursos à distância atuais,
porém, sob o formato impresso e não o virtual. Eram denominados de curso por correspondência e não à distância. Os
fascículos ou módulos eram enviados pelo Correio. Lembrando que os Ribeiros
pagavam uma Caixa Postal nos Correios, na qual, as correspondências de natureza
diversas eram endereçadas aos membros da Família, isto porque moravam na Zona
Rural.
O meu pai, pressentiu
que o futuro dele e família seria nas cidades. Porém, o desafio era a
qualificação dos filhos para o mercado
de trabalho. Aliás outros membros da Família
(Eunice Daniel, Maria Senhora e creio que a Marlene) diante da
impossibilidade de fazerem cursos presenciais recorreram ao velho e
referenciado IUB e cursaram Eunice e Maria Senhora, Corte e Costura; A Eunice e
a Marlene, se não estou enganado, cursaram madureza ginasial.
Aliás, as mulheres da Família
Ribeiro é que tomaram a iniciativa de buscar alternativas a profissão de lavradoras
e e, em sendo assim, apontaram para todos nós, isto é, também os homens da
Família, outros horizontes.
Acho interessante
relatar estes fatos porque, via de regra, as narrativas são machistas e a
Família Ribeiro, apesar de intelectualmente (falo sob o aspecto formal, mesmo),
se situar um grau acima da média, se tomadas como referência as demais famílias
camponesas residentes em São Lourenço, as quais, boa
parte era analfabeta, ainda assim, a Família Ribeiro era
extremamente machista e conservadora.
Por outro lado, as
políticas agrícolas adotadas pelo governo Getúlio Vargas, a partir da década de
1940, de avanço das fronteiras agrícolas
para o Centro Oeste Brasileiro, cujo marco foi a instalação da Colônia Agrícola
Nacional de Dourados (CAND);
Registro que, com
a implantação da Ditadura
Militar em 1964, estas políticas sofreram mudanças qualitativas, quais
sejam, a partir dos anos 1970, uma vez os
camponeses tendo desbravado a nova fronteira agrícola, e pressionado lógica da
Revolução Verde, os militares, optaram por estimular as práticas agrícolas que
eram tradicionais, isto é, feitas manualmente com uso da enxada, machado,
foice, enxadão, utilizando cavalos e bois, sob a influência dos avanços
das relações capitalistas pelo campo, as
ditas práticas agrícolas, progressivamente e
rapidamente foram substituídas pela mecanização, a tecnificação
(fertilizantes, defensivos agrícolas e outros) e a produção dos agricultores,
vai rapidamente deixando de ser de subsistência e se torna comercial e
orientada para exportação;
gradativamente deixa de ser policultora e tornou-se monocultora e viabilizadora
do processo industrial em curso no Brasil, iniciado em sua segunda fase a
partir do final da década 1950, com Juscelino Kubitschek.
Dito em outras
palavras a agricultura tradicional estava condenada a fracassar, não por acaso,
mas como um propósito das classes dominantes, vale dizer, das burguesias
industriais e rural; e em São
Lourenço, a partir de 1970, o êxodo rural foi intenso e total.
Obviamente as terras foram parar na mão da burguesia rural. E os camponeses, a
maioria veio tentar a sorte em Dourados.
Pois bem, diante
do contexto relatado e, que necessariamente e certamente, parte da Família discorda, não havendo condições
de frequentar na época, o ginásio ou cursos profissionalizantes, a solucão
encontrada foi a de fazer os cursos à distância ou como
se dizia na época, por correspondência.
O meu pai, com
muito sacrifício, pagava as mensalidades e sonhava que um dia eu fosse um
radiotécnico. Confesso que o decepcionei, verdade seja dita, não era a minha
praia. Esforços da parte do meu pai além de pagar o curso, se deram no sentido
de praticar a profissão, por isso, ele conversou com a Tia Antônia
para que eu viesse morar em sua casa e pudesse pois, estagiar ou praticar a
profissão em um radiotécnica em Dourados. A Tia Antônia e o Tio Miguel Daniel,
gentilmente concordaram. Todavia, confesso, não logrei êxito.
Voltei a morar em
São Lourenço e fui estudar em 1975, a 6ª série ginasial, na Escola Estadual
Frei João Damasceno, em Nova América pois, enquanto morei na casa da Tia
Antônia, cursei a 5ª séria no Colégio Oswaldo Cruz
(hoje este Colégio não existe mais);
Mas o meu pai não
desistiu da ideia e em 1976, depois de conversar com o Zé
Carlos Morais, primo que estava passeando em São Lourenço, revelou o seu desejo
de me ver qualificado como radiotécnico e o Zé Carlos, se propôs a conversar
com uns uruguaios que tinham uma radiotécnica de Campo Grande e eu, mais uma
vez, fui praticar radiotécnica. Todavia, não levava jeito mesmo. A verdade é
que seis meses depois desisti e fui trabalhar na Serralheria da Família
Morais a Gradelar, onde fiquei até 1978 quando fui servir o exército. Me tornei um meio
oficial em serralheria. Enfatizo que a Tia Maria e a Família Morais sempre me
trataram muitíssimo bem. A Tia Maria, inclusive, me tratava, acredito, até melhor que aos seus próprios filhos. Aliás
não tenho o que reclamar tanto da Família Daniel, quanto da Família Morais.
Você sabe o que é um fusível?
Por eu estar cursando radiotécnica, o Tio
Antônio sempre brincava comigo, dizendo: “Enio, você já sabe o que é um
fusível?” Isso virou gozação entre os demais primos.
Concertei o rádio do Tio Celso
Os tios querendo me ajudar a se tornar um
técnico, bem que deram uma mãozinha. Me lembro que o Tio Celso, tinha um rádio,
marca Semp e o mesmo apresentou um defeito no seletor das faixas (ondas curtas
e longas). A verdade é que eu troquei o seletor e se ficou bom não sei. O Tio
Celso, nunca reclamou, talvez para não me desanimar.
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