sábado, 17 de junho de 2023

O BODOQUE

 

Eis como atirar com o bodoque

Em São Lourenço, houve um momento que, o saudoso e inesquecível, Tio Miguel Daniel, teve a ideia de fazer um bodoque para o Augusto Daniel - seu filho -, ensinando-o a usá-lo com maestria. Tio Miguel, inclusive, instruiu o Augusto a fabricar bolinhas de barro, com cerca de 1 centímetro de diâmetro, feita de barro branco, material existente em abundância nas várzeas sãolourencinas. Estas bolinhas passaram a ser utilizadas como pedras para caçar passarinhos.

Observação: no São Lourenço, denominavamos este barro branco de argila, embora, genuinamente não seja argila.

Eu e o Alberto nos interessamos por este instrumento, e o Tio Miguel, pacientemente, se dispôs a fazer tal instrumento,  um pra mim e outro para o Alberto. Tio Miguel foi bastante prestativo e nos ensinou tudo sobre este instrumento: fabricação e como utilizá-lo. Nas matinhas de São Lourenço, havia uma planta especial para a fabricação do arco do bodoque. Não tenho certeza, mas penso ser os cipós - me corrija se estiver errado, Augusto Daniel.

. .De vez em quando, Eu e o Alberto acertávamos o dedo, doía bastante, mas não desistimos do aprendizado. 

O bodoque no momento de disparo, necessário é, inclinar um pouco a lançadeira e o arco, em sendo assim, o arco  deixa de servir como mira. É preciso uma certa prática e um cálculo mental para conseguir acertar o alvo, o que exige, avaliar qual o ângulo de desvio entre o arco e a trajetória a ser feita pela pedra em movimento. 

Resumo da ópera: o bodoque, embora interessante, verdade seja dita, o estilingue é bem mais prático.

Explicações técnicas sobre o bodoque

domingo, 11 de junho de 2023

NICINHA FOI UMA MULHER QUE APRESENTAVA MUITAS VIRTUDES

 Na presente postagem, eu faço uma homenagem a  nossa querida prima,  Eunice Lopes da Silva (popular Nicinha), nascida em 04 de Julho de 1954, no então Distrito de Dourados, atualmente, Município de Itaporã, a qual,  faleceu em 02 de Agosto de 1994, em Campo Grande, com apenas 40 anos de idade, vítima de um câncer de mama, contra o qual lutou, por cerca de 05 anos.

A Nicinha,  dos filhos de Tio Edson é a única que nasceu em Itaporã, até porque o Tio Edson,  foi um dos filhos do Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, que  acompanhou este casal, quando o mesmo mudou-se para as terras adquiridas,  em Itaporã, então Distrito de Dourados, no ano de 1954. No entanto,  Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, permaneceram em Itaporã, por cerca de 06 seis meses, haja vista que acabaram interessando-se e adquirindo outras terras (uma pequena fazenda), em um lugar denominado  São Lourenço, localizado em Caarapó, então um distrito de Dourados. E novamente o Tio Edson  acompanhou o casal, instalando-se também no São Lourenço.

No entanto, Edson Ribeiro, ficou pouco tempo em São Lourenço, haja vista que foi contemplado com um lote de terras, em Vila Brasil (atualmente Fátima do Sul) , então um Distrito de Dourados, e sobre a qual se estendeu o território da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND). Ressalto ainda que Tio Edson mudou-se para Vila Brasil, no entanto, um dos seus filhos, o Eduardo ficou morando com os seus avós, em São Lourenço, Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, enquanto  suas  filhas foram com ele morar na Vila Brasil, dentre elas, a Nicinha.

Aproveito para fazer aqui uma observação, qual seja, a de que antes da implantação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados, implantada pelo governo Getúlio Vargas, em 1943, foi implantada, em 1923, a Colônia Municipal Agrícola de Dourados, cujos domínios territoriais se estenderam sobre o território que atualmente corresponde ao município de Itaporã e que, naquele período histórico era parte de Dourados.

Ouso dizer que a Colônia Agrícola Municipal de Dourados, por estar sob a responsabilidade de uma Prefeitura, encontrava grandes dificuldades para ser viabilizada, e esta dificuldade ficou tão evidenciada que, os governantes perceberam que um Projeto de Reforma Agrária para ser bem sucedido, deveria ser implantado sob a responsabilidade da União, o que ocorreu em 1943, quando da criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados, aliás o maior Projeto de Reforma Agrária realizado no País e, diga-se de passagem, coroado de grande êxito, já que Dourados,antes da implantação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados, era um município inexpressivo no então Estado de Mato Grosso,  atualmente integra o Estado de Mato Grosso do Sul e é a 2ª maior cidade do Estado de Mato Grosso do Sul, em decorrência do grande dinamismo econômico que passou a ter com a implantação da CAND.

Quanto a Nicinha o que tenho a dizer é que foi uma empresária bem sucedida, excelente dona de casa, mãe exemplar de duas filhas adotivas, tremendamente amorosa e dedicada à família e familiares; foi uma mulher humilde, divertida, honesta, muito responsável; e que gostava muito de viajar,curtir praias e, claro, tomar uma cervejinha.

     

Esta foto revela o quanto a prima Nicinha
 era dedicada as filhas

sábado, 3 de junho de 2023

AS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NO SÃO LOURENÇO

 

Regulei  bem o retrovisor de forma a focar o São Lourenço nas décadas de 1950, 1960 e 1970, e por extensão a Família Ribeiro. Tempos difíceis, muito sofrimento, mas que sob certos aspectos nos provoca saudades.

Mas o que quero enfatizar nesta postagem é que as práticas agrícolas nas referidas décadas no Brasil,  estavam prestes a passar por uma revolução no campo, sob duplo aspecto, técnicas de produção e avanço das relações capitalistas no campo, e no caso, da nossa região, adiciono um outro aspecto, qual seja,  o avanço das fronteiras agrícolas em direção ao Oeste Brasileiro e, em nossa região, o Centro-Oeste.  O primeiro passo, deste avanço se deu com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND); o segundo passo foi dado com a instalação de uma unidade da Embrapa, em 1975; o terceiro passo com a instalação da Cergrand (Cooperativa de Energia Rural da Grande Dourados) em 1976;

As práticas agrícolas em São Lourenço, inicialmente, se caracterizaram pela produção de culturas, apenas de verão: arroz, milho, feijão e mais tarde o soja; porém, nos anos 1975, com a instalação da Embrapa em Dourados, gradativamente culturas de inverno, incentivadas e possibilitadas,  graças as  pesquisas feitas por esta Empresa na região, visando melhoramento genético e adaptação às condições climáticas da região de determinadas espécies de produtos agrícolas, teve início a produção de culturas de inverno, bem como de maior diversidade de cultivares (sementes - verão e inverno) . Neste trecho, Léia queira me corrigir, se estou dizendo coisas sem fundamento, haja vista, menina, você ser uma agrônoma.

Não por acaso a Família Ribeiro, em meados da década de 1970, passou a produzir de trigo, uma cultura de inverno. Claro que com muita dificuldade, já que,  faltava à mesma, experiência com o cultivo de trigo.

Até então, em São Lourenço, o período dedicado ao plantio até a colheita se dava por cerca de 06 meses. Os outros seis meses eram aproveitados ou para derrubar a mata, ainda virgem, e para o plantio de pastagens; complementando a renda da família, ocorria também a extração da erva mate, normalmente, realizada sob a forma de empreita pelos  paraguaios, especialmente, o Seo João Batista. Aqui, Manoel Renato e outros primos, testemunhas oculares destes fatos, me corrijam, se os mesmos ocorreram diferentemente do aqui narrado por mim.

Pra concluir quero dizer o seguinte, os integrantes da Família Ribeiro, a exemplo dos demais camponeses em São Lourenço, neste período passaram por um aprendizado sobre práticas agrícolas no Centro-Oeste, muito diferentes, de como são realizadas no Nordeste, região, da qual, a Família Ribeiro e tantos  camponeses,  eram oriundos.

Observação: não por acaso, o governo Brasileiro, fez um acordo com o governo japonês, de tal sorte que das dez mil famílias assentadas na Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), 1000 famílias eram constituídas por japoneses, haja vista, os japoneses terem um amplo conhecimento sobre técnicas de produção agrícola em pequenas propriedades rurais. Ou seja, as famílias japonesas, se constituíram numa espécie de professoras de práticas para os outros 9.000 colonos assentados. Com este acordo, mutuamente benéfico para o Brasil e o Japão, porque, o Brasil foi beneficiado com ensinamentos sobre práticas agrícolas da parte das mil famílias japonesas e o Japão conseguiu encaminhar mil famílias desempregadas naquele Pais, o qual, por conta de ter sido derrotado na 2ª Guerra Mundial, enfrentava uma crise econômica enorme. 

Detalhe: neste acordo, as famílias japonesas foram assentadas na Colônia Agrícola Nacional de Dourados com alguns privilégios não concedidos aos demais colonos.

Observação 02: mas claro que os ensinamentos dados pelas famílias japonesas se fizeram sentir para além da CAND, se estendendo aos demais camponeses residentes em Dourados e região, dentre eles, os residentes em São Lourenço;

Uma exemplo concreto desta influência, a criação de financiamentos aos camponeses no banco para a compra dos micro-tratores da Sakaguti, comprados por diversas famílias no São Lourenço. Trator de marca japonesa e adequado para o cultivo em pequenas propriedades e várzeas;



 

 

Assim era o lavrador

Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agríc...