domingo, 10 de setembro de 2023

Família Ribeiro, sob certos aspectos desempenhou o papel de governo de São Lourenço

 A Família Ribeiro, nos anos 1954, 1960 e 1970, foi uma espécie de governo do velho, sofrido e nostálgico São Lourenço. Ouso fazer tal afirmação partindo do princípio de que os governos municipal,estadual e federal são os responsáveis pela oferta de serviços nas áreas da saúde, educação, lazer, cultura e outros. Fazem isso com os impostos arrecadados ou com financiamentos a serem pagos, claro, pelo povo.

Porém, o Estado Brasileiro, nas décadas referidas em muitos lugares, e São Lourenço era um desses,  era ausente. Aliás, ainda existem na atualidade, lugares em que o Estado Brasileiro ainda é muito ausente, porém, bem menos do que em meados do século passado.

Lembrando que quando o Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, chegou ao São Lourenço, em meados de 1954, Caarapó era um distrito de Dourados, portanto, uma vila e o São Lourenço, um sertão. 

O São Lourenço ainda contava com suas terras virgens, cobertas de matas. A atividade econômica com fins comerciais,então realizada, salvo honrosas e raríssimas exceções, era o extrativismo da Erva Mate, haja vista que ainda existia o Império da Companhia Mate Larangeiras.

No entanto Augusto Ribeiro, Pulcina Ferreira e os filhos do casal foram para o São Lourenço com a intenção de lavrar a terra. Mas só com boas intenções isto se revelou impossível, necessário se fazia, uma certa logística, dentre elas: um templo religioso, uma escola, abastecimento, assistência social e lazer. Serviços que  até 1958 cabia ao Prefeito de Dourados, haja vista, Caarapó ser um Distrito de Dourados. A partir de 1958, Caarapó se tornou um município. Mas tanto, os prefeitos de Dourados como  de Caarapó, nas décadas de 1950,1960 e 1970, quase sempre se notabilizaram por estarem ausentes na prestação destes serviços aos camponeses residentes em São Lourenço e adjacências.

Diante deste impasse, Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, na medida do possível se preocuparam em prestar alguns serviços. Não por acaso, Augusto Ribeiro articulou-se politicamente e conseguiu instalar a Escola Rural Mista de São Lourenço, cedendo o terreno e colocando, inclusive, primeiramente o seu Filho Ildefonso Ribeiro para ser dirigente, zelador e professor da mesma; mais tarde ampliou a equipe, incluindo, Maria Sinhá para junto com Ildefonso Ribeiro zelar pela Escola; também implantou um pequeno armazém, no qual, podia ser encontrados produtos "básicos do básico": açúcar, farinha de mandioca, sal, querosene, fósforo que, Augusto Ribeiro dizia ser artigos para manter o fornecimento aos seus filhos e arrendatários que trabalhavam nas terras da Família Ribeiro. Os pagamentos dos produtos fornecidos, os arrendatários os faziam  apenas nas colheitas; Augusto Ribeiro, converteu-se ao espiritismo kardecista e juntamente com os seus filhos Ildefonso e Antônio, também convertidos, encarregaram-se de construir o Centro Espírito Allan Kardec, suprindo assim uma demanda religiosa dos camponeses. Digo dos camponeses porque, mesmo os camponeses não espiritas kardecistas, participaram de alguns eventos, os de natureza mais festiva, até porque eram católicos ou, eventualmente, evangélicos e não compartilhavam dos princípios espíritas. Todavia, na parte recreativa, estes camponeses, por vezes, se incluiram. E a religião espírita kardecista, foi portanto, decisiva para assegurar que os camponeses não sucumbissem diante de dificuldades gigantescas e de natureza diversas, e de alguma forma contribuiu para minimizar a melancolia e o espírito depressivo dos camponeses; no lazer, Epifânio, Ildefonso, Edson Daniel e Antônio Costa se dedicaram ao lazer, vale destacar: organizando equipes de futebol; e  na saúde uma equipe composta por Pulcina Ferreira, Ildefonso Ribeiro, Maria Sinhá e as parteiras Dona Filisbina, Dona Joana Ribas ou Lopes, que se encarregava de realizar partos, curar várias enfermidades a base de ervas medicinais, com destaque para Pulcina Ferreira que, sabia a erva certa, como preparar e a dose a ser ministrada para os pacientes. 

Para assegurar toda esta logística, as instalações físicas da Escola, do Centro Espírita e o campo de futebol, todos, sem exceção, em terrenos cedidos por Augusto Ribeiro.

Diante da narrativa até aqui feita, penso não ser exagero dizer que a Família Ribeiro se constituiu numa espécie de governo do São Lourenço. Além do mais os camponeses em algumas situações muito adversas, não raro, procuravam buscar orientações junto a algum dos membros da Família Ribeiro. Aos domingos, a casa de Pulcina Ferreira era ponto de encontro dos filhos e netos do Casal, mas também de outros camponeses que eram considerados como membros da família, João Felicio e filhos, Francisco Barcelo e Filhos e tantos outros.

Resumo da ópera: os camponeses em São Lourenço instituíram a autossuficiência e se governavam, numa certa medida.


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