quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

As bicicletas como meio de transporte

 Em São Lourenço, além de tratores, caminhões, caminhonetes, kombi, jipe, cavalos e bois,a bicicleta foi intensamente utilizada como meio de transporte de pessoas e de mercadorias. Adquirir uma bicicleta nas décadas de 1950 e 1960, demandava investimentos elevadíssimos, creio que, algo equivalente a aquisição de um carro popular, na atualidade.

Na Família Ribeiro, o primeiro a ter uma bicicleta, se não estou enganado foi o Luís Carlos, o Luisão, filho de Tio José, uma bicicleta Gorik. Depois gradativamente, os demais filhos do Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira , adquiriram uma bicicleta. E é uma mesma, haja vista que as bicicletas eram caríssimas, proibindo, por conta do preço elevado, a aquisição de mais de uma bicicleta por família.

Anos mais tarde, chegaram ao São Lourenço, Seo Zezé, um sergipano e a Dona Santa, sua esposa, acompanhados de parte dos seus filhos - eles tiveram 24 filhos ao todo.

Seo Zeze e filhos, trabalharam como arrendatários em terras do vovô e 03 dos seus filhos: Antônio Sergipano, Bernardo e Candim, faziam questão de todos os anos adquirirem bicicletas 0 km e com todos os acessórios: farol, dínamo, retrovisores, limpa raios, capa de assento da bicicleta, bomba de encher pneus, buzina e outros e exibiam, orgulhosamente, suas “magrelas”, no velho e bom São Lourenço,especialmente nos finais de semana. Era como se tivessem adquirido uma Ferrari.

As bicicletas, naquele período histórico, eram utilizadas para passeios, transporte de pessoas e mercadorias. Os camponeses as utilizavam para atividades diversas, ir para o trabalho, bailes, escolas, e, por vezes, iam até Nova América e Dourados. Em suas bicicletas se locomoviam, davam carona para outras pessoas, filhos, esposas e namoradas.

Não por acaso, as bicicletas naquele período, eram todas fabricadas com garupas, para-lamas, objetivando assegurar condições de transporte de pessoas e mercadorias e também, tendo para-lamas para não sujarem as pessoas e suas roupas. Alguns camponeses adquiriram bicicletas cargueiras porque necessitavam transportar maior volume de mercadorias

Quero aqui registrar que Eu, o Alberto e os meus primos Augusto, Toinho, o  Argemiro  e mais dois amigos, filhos de camponeses em São Lourenço, o Toninho e o Roque, íamos pedalando diariamente até Nova América estudar na Escola Estadual Frei João Damasceno. Nesta Escola fizemos o curso ginasial (atualmente séries finais do ensino fundamental 6º ao 9º anos), haja vista que, a Escola Rural Mista de São Lourenço ofertava somente do 1º ao 4º anos (atualmente séries iniciais do ensino fundamental). A distância de São Lourenço à Nova América era de aproximadamente 11 kms.

Algumas vezes também, as bicicletas foram utilizadas para deslocamentos de atletas a jogos de futebol que ocorriam no São Lourenço ou em outros campos e propriedades vizinhas, em Nova América, Liberal, Cerrito e Café Porã.

Quando as bicicletas apresentavam defeitos, inúmeras vezes, nós mesmos, os camponeses as consertávamos,  porque trazê-las até uma bicicletaria, era muito difícil. E quando digo concerto, era concerto mesmo, diferente do que ocorre atualmente, bicicletarias não concertam mais bicicletas, simplesmente trocam peças. Enquanto nós, no velho e bom São Lourenço, quando um parafuso explanava colocávamos um pano entre a porca e o parafuso para poder dar o aperto necessário e prender um determinada peça da bicicleta; quando estragava a catraca, utilizávamos uma perna de um fio de um cabo de aço, concertando o macaquinho da catraca; quando o freio da bicicleta estragava, cortávamos um pedaço de um pneu e fazíamos a sapata (borracha que permite a frenagem das bicicletas). Estes são apenas alguns exemplos.

Naquele tempo era raro uma família comprar uma bicicleta infantil. As crianças em São Lourenço aprendiam andar de bicicleta, utilizando a bicicleta de um adulto, o que não era nada fácil, por conta do uso frequente que os adultos faziam da bicicleta e por serem as bicicletas de alto custo, nem todos pais ou irmãos mais velhos, permitiam que as crianças utilizassem suas bicicletas, ainda mais para aprender a andar nelas, já que frequentemente caíam e as quedas provocavam danos as bicicletas. Além do mais, por não serem bicicletas infantis, as crianças tinham que aprender com o corpo apoiado somente de uma lado da bicicleta, com uma das pernas cruzando por baixo do cano da bicicleta para poder pedalar os dois pedais, posição esta que dificultava ter equilíbrio. Mas as crianças eram persistentes e, mesmo se expondo a levar broncas, as escondidas em alguns casos, aprenderem a andar, superando heroicamente, todas as dificuldades.

Eis a dificuldade de uma criança

para aprender a andar de bicicleta


Por outro lado na Família Ribeiro, se destacava como ciclista o Antônio Costa, e mais tarde, quando os Ribeiros mudaram para a cidade de Dourados, Antônio Costa ganhou outros companheiros da família para o ciclismo. São eles, Antônio Ribeiro e o Paulinho. E os demais primos também foram obrigados a utilizar mais a bicicleta em Dourados para irem até o emprego e escolas.

Atualmente, devido ao fato de existir crédito facilitado para aquisição de carros, raramente, temos alguém da família pedalando, exceto, o Paulinho que caprichosamente é um ciclista para ir ao trabalho e demais necessidades. Mas não satisfeito, o Paulinho nos finais de semana e feriados pedala, por vezes, até 100 km ou mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Assim era o lavrador

Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agríc...