Estamos mais uma vez muito próximo do dia 25 de Dezembro, e, por conta disso, me permiti retroceder cerca de 55 anos atrás e "aterrisar", num lugar denominado de São Lourenço, município de Caarapó (MS), um povoado que era habitado por mais de uma centena de camponeses. Este povoado, a exemplo do Brasil rural, nos idos dos anos de 1960 e 1970, era marcado por uma realidade cruel, e em sendo assim, a população tinha que de alguma forma buscar a autossuficiência, já que o poder público - esferas municipal, estadual e nacional -, se caracterizavam por serem ausentes e omissos.
Em São Lourenço, os camponeses, tendo como alguns líderes, membros da Família Ribeiro, mas não só, buscaram assegurar a autossuficiência, bancando eles mesmos o oferecimento de certos serviços, tais como lazer (futebol, brincadeiras e bailes familiares, confraternizações); saúde (parteiras, benzedeiras, pequenas cirurgias de bernes, amputação de crianças que, porventura, nascessem com o sexto dedo, ministrar soro antiofídico em pessoas picadas por cobras). Na área de saúde, Ildefonso Ribeiro, Maria Sinhá, Dona Joana Lopes, Dona Filismina, dentre outros, foram o que atualmente é denominado de agentes de saúde, haja vista, terem contribuído para melhores índices de saúde pública em São Lourenço, claro que enfrentando algumas limitações, mas ainda assim, foram extremamente providenciais; abastecimento popular - merece registro o armazém de Augusto Ribeiro que supria os camponeses com alguns itens básicos: farinha de mandioca, querosene, açúcar, sabão, fósforo e outros itens); por um período muito curto,mas ainda que curto, digno de nota cito também o primo Eduardo, o qual se estabeleceu com bar/mercearia e contribuiu para otimizar os serviços oferecidos no setor de abastecimento popular em São Lourenço; religião: embora os camponeses, a maioria fosse adeptos do catolicismo, em São Lourenço, o Patriarca Augusto Ribeiro e os seus filhos Ildefonso e Antônio, o seu sobrinho Antônio Costa, e camponeses amicíssimos da Família (Seo Luizinho, Antônio de Paula, João Felício), contribuíram para a fundação do Centro Espírita Allan Kardec, e asseguraram um espaço para o exercício do espiritismo kardecista, patrocinando eventos diversos: palestras, estudos da filosofia, lazer, confraternizações, estas duas últimas atividades acabaram atraindo, inclusive, os camponeses católicos e até mesmo, alguns raros evangélicos que lá residiram. O espiritismo kardecista, em São Lourenço, cumpriu um papel estratégico e decisivo no sentido de assegurar aos camponeses determinação, persistência e disposição para enfrentar tantas dificuldades, as mais variadas. Cimentou muita solidariedade e cumplicidade entre os camponeses.
É neste cenário que se inserem as comemorações do dia 25 de Dezembro. Nesta data Ildefonso Ribeiro, Antônio Ribeiro e Antônio Costa e outros, se notabilizaram por liderarem as ações para que no dia 24, véspera de natal, fossem realizados no Centro Espírita Allan Kardec, eventos festivos que consistiam na distribuição de presentes às crianças, quando conseguiam donativos junto aos comerciantes dos quais eram clientes em Caarapó, Nova América e Dourados; realização de palestras e apresentações culturais (poesias, pequenas dramatizações - pecinhas teatrais. Me lembro de algumas pessoas que se destacaram nestas atividades: Nilza Lopes, Maria Socorro Ribeiro e Antônio Ribeiro, declamando poesias; Luiza Alexandre, Alberto Ribeiro (meu irmão), por exemplo, interpretando melodias natalinas. A Lurdinha Ribeiro que já naquele período era uma evangelizadora também se envolveu muito na organização das atividades a serem realizadas, nestas celebrações natalinas. Poderia aqui elencar outras ações e pessoas, mas fico por aqui.
Para concluir, afirmo estes eventos festivos do natal em São Lourenço,fechavam com chave de ouro, cada ano, por isso, inesquecíveis para quem em alguma medida esteve envolvido, seja como protagonista ou como mero espectador.