sábado, 16 de junho de 2018

OS MUTIRÕES EM SÃO LOURENÇO

Nos anos 1950 e 1960 a estrada que ligava o São Lourenço a Nova América, Caarapó e Dourados apresentava-se  muito precária.Esta estrada atravessa o Córrego São Lourenço, sendo que nas duas margens deste córrego existe uma planície com extensão de aproximadamente  300 metros em cada lado  e que nas décadas citadas, era extremamente pantanosa, haja vista que, naquele período histórico, o São Lourenço ainda estava coberto de matas e, como se sabe, onde existem florestas, o reservatório subterrâneo aquático é muito mais raso, mais próximo mesmo da superfície terrestre, porque a água é puxada pelas raízes das árvores. 
Assim sendo, nesta planície, as águas ficavam acima da superfície terrestre, alagando-a, formando extensos pântanos. Alguém que se propusesse atravessá-la com algum veículo, era quase certo que atolaria. Até tratores muitas e muitas vezes atolaram ao atravessá-la. Sendo mais claro, mesmo a pé, atravessá-la era um grande desafio.
E, naquele período a Prefeitura Municipal, primeiramente de Dourados, já que  até 1958, Caarapó era um Distrito de Dourados e mesmo  depois da transformação deste  distrito em Município,  a Prefeitura de Caarapó, não se fazia presente prestando  serviços em benefício dos camponeses residentes em São Lourenço, dentre eles, abertura e manutenção desta estrada.
Diante disso os  camponeses tiveram que realizar a  manutenção e os melhoramentos nesta estrada, o que fizeram, recorrendo aos mutirões. Dentre as famílias que participaram destes mutirões podem ser citadas a dos Ribeiros, dos Lopes, a de Luís Baiano, do Pascoal, do Seo Agostinho e outros.
Os camponeses constituíram diversas equipes: a de roçadas, a que abria valetas visando a drenagem desta planície pantanosa,  pela colocação de pedras nos atoleiros (buracos) e a de alimentação, constituída pelas  mulheres dos camponeses. E desta forma lograram êxito  em romper o isolamento que São Lourenço estava condenado a sofrer em relação a Nova América, Caarapó e Dourados, caso não fizessem nada. 
Lembrando que os camponeses  precisavam ir a um destes lugares para comercializarem o excedente de suas respectivas produções agrícolas, em especial a de arroz e comprarem alguns produtos industrializados: açúcar, querosene, farinha de trigo, fumo caipira, farinha de mandioca, enxadas, foices, machados, etc. 
E estes mutirões contribuíram para aproximar estas famílias e estabelecer um espírito de cumplicidade entre elas, uma relação que pode-se dizer de parentes.  Era como se,  em São Lourenço, existisse uma única família. 
Era muito bonito  ver o momento em que as famílias paravam para as refeições. O cardápio era constituído por ovo frito, farofa, arroz, feijão, carne de frango, café, bolo de milho. Porém, como eram preparados por diversas cozinheiras, o tempero das refeições era diferenciado. E os camponeses, num espírito de muita camaradagem, de cumplicidade e de partilha, saboreavam as refeições preparadas por todas as cozinheiras e, ao saborearem pratos com temperos diferentes a comida ficava mais apetitosa. Ou seja, as paradas para as refeições, se constituíram  em momentos de festas, de confraternização e que marcou indelevelmente a todos àqueles que viveram estes momentos, além de ter contribuído para selar um clima de muita confiança entre todas as famílias camponesas residentes em São Lourenço.
Observaçãoquando alguma das famílias camponesas precisava plantar ou colher em tempo record, muitas e muitas vezes, recorreu-se aos mutirões.

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