TERRA NEM DE GRAÇA

Estes dias estava conversando com a minha vizinha, a Dona Maria, atualmente com 81 anos, e conversa vai, conversa  vem, ela contou a história do seu marido que sempre trabalhou nas fazendas como peão e administrador na zona rural de Caarapó e que ele era uma pessoa muito querida. Muitos fazendeiros quiseram recompensá-lo, dentre eles, o Zé Teixeira, doando-lhes terra. É isso mesmo se dispuseram a doar terra para ele.

Ele não quis, sob o argumento de que ser proprietário não era um bom negócio já que a Cia Mate Larangeiras, cujas posses se 
estendiam por metade do atual território do Mato Grosso do sul, empresa que mandava e desmandava no então Estado de Mato Grosso, o incomodaria na condição de proprietário.

Com efeito, esta Companhia era abusada já que era de certa forma um Estado dentro de outro Estado, no caso o Mato Grosso. Os indígenas, paraguaios, pequenos agricultores e trabalhadores rurais foram vítimas da ganância de Tomaz Larangeiras - o seu dono - contra o qual os governantes do Mato Grosso não tomavam nenhuma providência.

Mapa que ilustra todo o território pelo qual se estendia o poder político da Cia Mate Larangeiras

Aliás, todo poder desfrutado por esta Empresa,  é uma das causas que levou a população do sul do Estado de Mato Grosso a lutar pela criação do Estado de Mato Grosso do Sul. 

Ouvindo o relato de minha vizinha fiquei pensando, as famílias que adquiriram terras em São Lourenço nos anos 1950, dentre  elas as famílias Ribeiro e Oliveira, meus familiares paternos e maternos, tiveram muito sorte de não terem sido vítimas da Companhia Mate Larangeiras. 

O SOBRENOME DOS MEUS FILHOS

Queridos parentes, os meus filhos, todos, sem exceção, não assinam Ribeiro, o sobrenome colocado deles,  pelo meu lado, fiz questão de incluir oOliveira, herdado de minha mãe. Como a sociedade brasileira é muito machista, os parentes, que tenho pelo lado do meu pai, me questionaram porque eu estava renunciando ao sobrenome Ribeiro? 

Quero dizer que tenho o maior orgulho de pertencer a Família Ribeiro. No entanto, eu percebo que as famílias de nossas mães, por  conta deste machismo ficam colocados em um plano de inferioridade. Esta minha atitude é para protestar contra este machismo. Penso que a sociedade deve promover a igualdade de direitos entre homens e mulheres. 

UMA REFLEXÃO SOBRE O DIA DOS PAIS

Há 20 anos e oito meses atrás, o meu faleceu. No entanto, os seus ensinamentos, valores morais, espirituais e filosóficos continuam vivos, eu diria que estão eternizados em minha memória. Desta forma posso assegurar que ele vive e continua, sob outra forma, sendo um dos meus grandes orientadores em cada passo que dou.

Aos demais primos tenho a dizer, os seus pais, foram pessoas fantásticas, porque não mediram esforços para educá-los a serem íntegros, honestos e éticos. Parabéns a todos os pais da nossa numerosa família,

AUGUSTO E PURCINA, PROFESSORES DE ÉTICA

Para filhos, netos, bisnetos e por aí vai, a história de vida de Augusto Ribeiro e Purcina, é o  maior testemunho ético e de honestidade que podemos testemunhar. 
Um compromisso por eles assumidos tinha que ser honrado, mesmo que implicasse enormes sacrifícios. Se eles ficassem devendo, mesmo que fosse centavos, procuravam o credor para pagá-lo, mesmo que tivesse que andar muito para encontrá-lo. Igualmente, esperavam de quem com eles assumisse compromisso, a recíproca. Quem não honrasse a tais compromissos, contra estas pessoas não praticavam nenhuma agressão verbal ou física, porém, o prestígio delas, caía por terra.
O meu pai, por exemplo, não gostava de ser cobrado. Quando veio morar em Dourados, passou a fazer, vez por  outra, crediários. Pois bem, um dia antes do vencimento do crediário, ele ia até a  loja, alegando que não queria ser humilhado recebendo uma cobrança em casa. 

MUITAS CONQUISTAS EM SÃO LOURENÇO, AS DEVEMOS AO TIO JOSÉ

O Tio José, não é segredo para ninguém, sempre esteve envolvido na política partidária e nas disputas eleitorais. Quando veio do Paraná ser lavrador e sitiante em São Lourenço realizou um movimento de aproximação dos representantes políticos caarapoenses e douradenses. Embora vivêssemos sob a lógica dos anos de chumbo (uma ditadura militar), o Tio José, muito astuto e habilidoso, mesmo sendo adepto do Partido Comunista Brasileiro, aproximou-se dos políticos. Não raro fazia muitas críticas ao posicionamento político-partidário e reacionário dos mesmos, todos, infelizmente integrantes da então Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido da situação, isto é, do regime militar. Mas estas críticas, as fazia, eu afirmo, de forma tão nobre que os políticos acabavam por não guardar rancor do Tio.
Uma crítica que o Tio fazia a eles, especialmente aos políticos que se diziam de oposição ao governo era o fato de se candidatarem pela ARENA. O que diferenciava a oposição da situação era apenas o acréscimo de um número a legenda, isto é, ARENA 01 para os candidatos da situação e ARENA 02 para os pretensos opocisionistas.
Pois bem, o Tio José, os "cutucava" dizendo se querem pousar de oposição o façam pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), embora seja uma oposição consentida pelo regime militar, mesmo assim, é a legenda que vocês devem ingressar para derrubar esta ditadura.
Esta aproximação, a meu ver, feita com tanta competência pelo Tio José, e explico porque: reivindicações  (patrolamento das estradas, construção da escola de alvenaria, etc)dos camponeses em São Lourenço, neste período, foram atendidas graças ao trabalho de bastidores do Tio José. Muitas pessoas até hoje não sabem disso.
Moral da história, o Tio José, sabia ser oposição, não compactuar com os princípios do regime ditatorial e ainda assim pleitear e ser atendido em algumas das reivindicações feitas em prol do São Lourenço.

Tio José pro Senhor, 

eu tiro o meu chapéu.

Aprendi muito com o Senhor.