terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A MÃO DE OBRA INDÍGENA NO DESBRAVAMENTO DE SÃO LOURENÇO

Em São Lourenço, nas décadas de 1950, 1960 e 1970, a escassez de mão de obra se revelou um grande problema. As terras, todas por serem desbravadas e para agravar a situação, os camponeses estavam descapitalizados. Diante da escassez  de trabalhadores, os camponeses em São Lourenço, recorreram a diversas modalidades de mão de obra: indígenas, peões, arrendatários e empreiteiros. 
Na presente postagem relatarei um pouco sobre a mão de obra indígena. No período histórico descrito, quem quisesse contratar um indígena para trabalhar, deveria se dirigir ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI) - órgão similar a  FUNAI.
 Em Caarapó a agência do SPI, localizava-se entre a cidade de Caarapó e o Distrito de Nova América. 
A contratação da mão de obra indígena exigia uma conversa com o capitão, com o qual era acertado o valor a ser pago ao trabalhador indígena, no caso em questão,  o valor das diárias. E se não me falha a memória, o pagamento não era feito ao trabalhador indígena, mas sim ao próprio  capitão.
Além do problema citado no parágrafo anterior, outros se apresentaram: 
a) nos finais de semana, os trabalhadores indígenas voltavam para o aldeia. Geralmente vinham à pé, percorrendo cerda de 30 km. Com este retorno semanal dos trabalhadores indígenas a aldeia, a conversa com o capitão tinha que ser feita semanalmente; 
b) a mão de obra não era tão qualificada para trabalhar na capinagem. A Família Ribeiro e as demais famílias, a saber: Costas, Oliveira, Ferreira e outras, queixavam-se  de que ao fazerem a capinagem, o que era feito utilizando enxadas, os trabalhadores indígenas,  capinavam também, num percentual muito elevado as plantações, via de regra,  plantações de arroz. Embora, numa capinagem, é natural que tal fenômeno se verifique, com os indígenas percentual apresentado era muito maior do que o apresentado pela mão de obra não indígena, o que se explica pelo fato de os indígenas até  via de regra, não agricultarem a terra, e sim, eram tradicionalmente extrativistas.  
c) os trabalhadores indígenas gostavam de beber cachaça. E os seus contratantes, inclusive, os Ribeiros, forneciam a  eles a desejada e malvada cachaça. Aliás, o discursos eram de que eles rendiam mais quando consumiam pinga.
Sendo bem objetivo em minha análise, apesar do elevado grau de humanismo da Família Ribeiro - este grau elevado deve ser compreendido dentro do contexto social experimentado por São Lourenço, no período analisado -, a constatação a que cheguei é a de que fomos sim, em boa medida, cruéis para com os indígenas. Importou muito mais os resultados do que o trato humanizado para como os indígenas. 
Outra constatação, sem a contribuição da mão de obra indígena, não teríamos  conseguido desbravado o São Lourenço, até porque, na quadra histórica descrita, todo o trabalho era feito manualmente, isto é, como se dizia lá, por trabalhadores braçais. A mecanização teve início no final dos anos 60 e início dos anos 70.
Plantação de arroz cacheado (dando cachos);

Observação: Em São Lourenço, as plantações de arroz eram feitas em várzeas, os camponeses, não a chamavam de várzeas e sim de pururuca. 


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