Vamos aos fatos: Augusto Ribeiro se instalou em São Lourenço,em Agosto de 1954, meus cálculos não são exatos, mas estimados com base em leitura feita da obra "RETRATO DE UM SONHO", cujo autor é Ildefonso Ribeiro. Primeiramente, Augusto Ribeiro se instalou em Itaporã, onde ficou apenas 06 meses.
Pois bem, em 1954, o São Lourenço, sediado atualmente no município de Caarapó (MS), estava sob a jurisdição da Prefeitura Municipal de Dourados, haja vista que, Caarapó se emancipou em Dourados, em 1958.
Nas décadas referidas, o poder público municipal, primeiramente o governo douradense e depois o, caarapoense, ambos, se notabilizaram por serem ausentes na oferta de serviços nas áreas de saúde, educação, lazer e abastecimento popular. Diante deste cenário, os camponeses, em São Lourenço, liderados pela Família Ribeiro - ponto de vista meu -, "resolveram" o problema por conta própria, constituindo uma espécie de autogoverno. Vamos aos fatos que comprovam tais afirmações:
Este casal (Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira)
protagonistas maior, desta história
Escola Rural Mista de São Lourenço
(terceira e última edificação)
atualmente. Está servindo de abrigo ao gado.
3) Abastecimento Popular: deveras problemático em São Lourenço, já que o acesso a Nova América, Caarapó ou Dourados era extremamente difícil devido a precariedade das estradas e pelo fato de os camponeses, contarem, quando contavam, apenas com carroças ou carretas como meio de transporte e porque só tinham dinheiro, no período das colheitas, logo comprar nas empresas, ficava dificultado, porque estava a exigir crédito, naquele período, na forma de fiado.
Diante do problema, Augusto Ribeiro, instalou um depósito, alguns o chamavam de bolicho.
Neste depósito podia ser encontrado produtos básicos: querosene, açúcar, fumo de corda, farinha de mandioca e de trigo, bingas (isqueiros), espelhos, etc. Este depósito facilitou duplamente a vida dos camponeses, especialmente, os integrantes da Família Ribeiro e os arrendatários de Augusto Ribeiro, que simultaneamente, tinham acesso a estas mercadorias, no São Lourenço, onde podiam buscá-los, mesmo indo a pé e obtê-los na base do fiado. .
Augusto Ribeiro, teve que fazer grandes esforços para manter este depósito, ainda que, muito aquém das expectativas dos camponeses, porém decisivo, para a permanência, no período citado, das famílias e para o desbravamento de São Lourenço;
4) Coletivos de Saúde: Acreditem , em São Lourenço, foi constituído, uma espécie do que atualmente denomina-se de coletivos de saúde. Sendo que os agentes de saúde - terminologia atual - era constituído pelos próprios camponeses e, muito deles, membros da Família Ribeiro.
Dentre as modalidades de agentes podemos fazer referência as parteiras (Dona Filisbina, Dona Joana e Maria Sinhá, esta última integrante da Família Ribeiro); primeiros socorros a picada de cobras, cirurgias de bernes, de crianças que nasciam com seis dedos nas mãos ou nos pés, aplicar injeções, era só procurar Ildefonso Ribeiro. Ildefonso Ribeiro, previdentemente e providencialmente sempre tinha um estoque de soro antiofídico, e, quando os camponeses eram picados por cobras, inclusive, de outros lugares que se limitavam com o São Lourenço (Café Porã, Liberal, Cerrito, etc), estes o procuravam; contávamos também com os conhecimentos e préstimos de Pulcina Ferreira, a qual, era conhecedora das propriedades das ervas medicinais, sobre o modo de prepará-las e qual a dosagem para ministrá-las. Aliás, Pulcina Ferreira tinha um herbário, constituído de diversas ervas, de tal sorte, que independentemente de qual fosse a enfermidade, existiria alguma erva que seria eficiente no combate a mesma. Acrescento ainda que Pulcina Ferreira era extremamente confiante no poder destas ervas, e não importava, quanto tempo demandaria para curá-las, ela insistia até que a enfermidade fosse curada, ela própria, acompanhava o enfermo, até o sua plena cura. Era comum os enfermos ficarem, em alguns, momentos, internados em sua própria casa para que ela pudesse cuidar melhor deles;
5) Religião: A Família Ribeiro também foi muito sensata ao instituir o Centro Espírita Allan Kardec em São Lourenço. Apesar de muitos camponeses serem católicos,evangélicos,etc., o Centro Espírita Allan Kardec foi importante para cimentar amizades, estabelecer um espírito de cumplicidade, de solidariedade, entre os camponeses e também para constituir uma identidade comunitária entre os camponeses das diversas famílias residentes em São Lourenço,a saber: Ribeiros, Oliveiras, Bispos, Alexandre, Dionízio, Lopes, etc.
O Centro Espírita Allan Kardec em cumplicidade com o Centro Espírito Santo Agostinho (Liberal) e Centro Espírita Amor e Caridade (Dourados), contribuiu muito para a territorialização do espiritismo por toda a Região da Grande Dourados.
Este papel, a meu ver, a Família Ribeiro, o cumpriu com o brilhantismo e sucesso narrados, tendo em vista a honradez, honestidade, autoridade moral e intelectual, desfrutada pelos seus membros. Sendo assim, mesmo não sendo detentora de cargos no aparato estatal: prefeito, vereadores, deputados, etc., os camponeses em São Lourenço, credenciaram a Família Ribeiro, para ser uma espécie de gestora dos interesses daquela coletividade.
Em síntese o que estou a dizer, em São Lourenço, a Família Ribeiro protagonizou o processo de construção de auto-organização, autossuficiência e autogoverno dos camponeses.
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