quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A FAMÍLIA RIBEIRO E A PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA

Em minha última postagem afirmei que a Família Ribeiro, apesar de  seus membros, não terem ocupado  nenhum cargo  no aparato estatal (união, estado ou município): prefeito,  vereador, deputado, senador, governador, etc., quando residiu no São Lourenço, no período compreendido de 1954 até os anos 1990, ainda assim, os camponeses integrantes das demais famílias camponesas, a saber: Lopes, Oliveira, Alexandre, Dionízio e Bispos, acabaram por credenciá-la para liderá-las junto aos governantes de plantão.
Problemas de natureza diversas, saúde, abastecimento popular, lazer, religião, etc., para serem solucionados, sempre contaram com articulações políticas de pessoas da Família Ribeiro à frente. Assim foi, por exemplo, quando da implantação da Escola Rural Mista de São Lourenço e do Centro Espírita Allan Kardec, no ano de 1956.
A meu ver, e com base no que li na obra Retrato de um Sonho, de autoria de Ildefonso Ribeiro, a explicação para o papel de liderança exercido pela Família Ribeiro, ocorreu porque;
a)  praticamente todos os seus membros eram alfabetizados, e diga-se de passagem, todos liam muito bem e, mais interessante, interpretavam muito bem um texto, independente da complexidade que apresentasse e porque buscavam sempre estarem muito bem informados. Os seus tinham o hábito de lerem ou ouvirem o noticiário nacional e local;
b) articulação política: Ildefonso Ribeiro, em sua obra, Retrato de Um Sonho faz diversos relatos informando que Augusto Ribeiro, nos diversos lugares em que morou, compôs diretórios de diversos partidos. José Ribeiro, idem, este, além das agremiações partidárias,  integrou também o movimento sindical. No Estado do Paraná, José Ribeiro,  antes de mudar-se para o São Lourenço, ocupou o cargo de vereador; 
Por conta disso, em Caarapó e Dourados,  Augusto Ribeiro e José Ribeiro tinham muito acesso aos representantes políticos.Aliás, Ildefonso Ribeiro e Antônio Ribeiro informaram que que para a implantação Escolinha Rural Mista de São Lourenço, Augusto Ribeiro fez uma dobradinha com Antônio Emílio de Figueiredo, um político importante em Dourados e região, no período citado. 
Estrategicamente, Augusto Ribeiro fez parte  do Diretório Municipal do Partido Político a que estava filiado Antônio Figueiredo; outro relato feito por Ildefonso Ribeiro é de que quando Armando Campus Belo foi candidato a Prefeito por Caarapó, anos 1970,  Augusto Ribeiro o apoiou eleitoralmente, exigindo   como contrapartida, o compromisso do mesmo, ainda na condição de candidato, de edificar um prédio para funcionar a Escola Rural Mista de São Lourenço - até então ela funcionava   numa instalação bem rústica - , compromisso que foi honrado.
Também José Ribeiro, sempre que ia a Caarapó, trocava um dedo de prosa com as lideranças políticas caarapoenses. 
Oportuno lembrar que José Ribeiro, então simpatizante do Partido Comunista e de Leonel Brizola, não poucas vezes, teceu várias críticas aos representantes políticos caarapoenses que pousavam de oposição ao partido da situação, valer dizer ARENA (Aliança Renovadora Nacional), mas ao se candidatarem, se candidatavam por esta legenda e não pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), a oposição consentida ao regime militar. Naquele período histórico, especialmente no interior brasileiro, caso de Caarapó, os ditos oposicionistas temendo problemas com a ditadura militar se candidatavam pela ARENA, diferenciando-se apenas pelo acréscimo de um número, qual seja, se os candidatos da situação se candidatavam como ARENA 01, os ditos oposicionistas se candidatavam pela ARENA 02. 
José Ribeiro, dizia pra eles, como vocês querem convencer a sociedade de que são oposição? Para serem convincentes devem se candidatar pelo MDB. Todavia, o Tio José era muito habilidoso e fazia estas considerações com muita diplomacia, de tal sorte que, não se indispunha com os políticos, apesar das críticas que tecia sobre o trabalho político deles.
E creiam, São Lourenço não conseguiu tudo o que precisava e merecia, porém, muito do que conseguiu não teria sido possível, não fora a articulação de José Ribeiro, coisas que muitas pessoas até hoje não sabem; 
c) e para finalizar sobre as explicações para a grande credibilidade desfrutada pela família Família Ribeiro  junto as demais famílias camponesas instaladas em São Lourenço, também  deve  ser creditada a postura ética, moral, honestidade e grande autoridade intelectual, grande senso de justiça e pelo fato de os Ribeiros  terem sempre assumido ações que eram de interesse de todos os camponeses que residiam no São Lourenço. 
Em síntese o que tentei dizer nesta postagem é que Augusto Ribeiro e José Ribeiro, de forma mais notória, mas não só eles, partiam da premissa - pra mim correta -, que as conquistas de uma coletividade se dão como consequência de ações políticas sistematizadas, o que está a exigir, não só compreender as contradições sociais, mas também o engajamento em algumas instituições, tais como igrejas, sindicatos e, de maneira muito especial, a um Partido Político. A trajetória de Augusto Ribeiro e José Ribeiro, pra ficar nos exemplos mais significativos, corroboram o que estou a dizer.

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