sábado, 13 de fevereiro de 2021

EM SÃO LOURENÇO, OS RIBEIROS APRENDERAM A SER LAVRADORES



 Em minhas postagens relatando as experiências que a Família Ribeiro viveu em São Lourenço, não raro, tenho utilizado a terminologia: CAMPONESES. Advirto-os, queridos parentes que, o uso desta terminologia não a fiz com o rigor científico que em Ciências Sociais se exige do termo. Tenho utilizado o termo visando demonstrar que vivíamos no campo, como sinônimo de homem rural, pequeno agricultor, lavrador e por aí vai.

Feito estes esclarecimentos, aproveito para dizer que os Ribeiros, antes de terem vindo para o então Mato Grosso - atual Mato Grosso do Sul -. primeiramente, instalando-se em Itaporã, em 1954, então um distrito douradense. Itaporã, em 1923, por conta de um decreto presidencial se constituiu na Colônia Agrícola Municipal de Dourados e nele se deu início a um processo não tão bem sucedido reforma agrária. Tanto é que, vinte anos depois, 1943, o então, Presidente Getúlio Vargas, dando consequência ao projeto político de expandir as fronteira agrícolas para o Oeste Brasileiro, criou a Colônia Agrícola Nacional de Dourados, abrangendo vários distritos: Fátima do Sul (Vila Brasil), Glória de Dourados, Douradina, Deodápolis, aliás a maior reforma agrária realizada até então no  Brasil. 

E a Família Ribeiro, até então, não exercia atividades agrícolas, em sua maioria, exercia o ofício de alfaiates. Portanto, não eram lavradores. 

Todavia, a propaganda do Governo Federal era a de que grandes oportunidades estavam colocadas para àquelas famílias que se dispusessem a trabalhar como lavradoras no então Estado de Mato Grosso, em especial, na Colônia Agrícola Nacional de Dourados.

É neste contexto que Augusto Ribeiro, no ano de 1953, então comerciante de tecidos no Estado do Paraná, resolveu "dar um pulo" até o Distrito de Itaporã, onde, vários de seus amigos, oriundos do Estado do Pernambuco, tinham terras, e, também, um dos seus cunhados, Antônio Ferreira. 

Augusto Ribeiro veio e gostou das terras, voltou ao Paraná decidido a se estabelecer como lavrador em Itaporã,o que ocorreu, em 1954.

No entanto, em Itaporã ficou por cerca de 06 meses, e acabou se instalando em São Lourenço, localizado em Caarapó, então, um distrito de Dourados, onde comprou uma fazendinha. Em curto espaço de tempos, vários de seus filhos foram para São Lourenço, e pouco a pouco se tornaram lavradores. São eles: Epifânio, Antônio, Celso, Antônia, Idelfonso (este embora tivesse adquirido um  sítio de 20 alqueires, exerceu atividades de professor, e vamos, por assim dizer, era uma espécie de assistente social). Edson Ribeiro ficou pouquíssimo tempo em São Lourenço porque acabou adquirindo terras em Vila Brasil e para lá se foi com a família. O último dos filhos de Augusto Ribeiro e Purcina a vir para o São Lourenço  foi José Ribeiro.

Pois bem, os Ribeiros  tiveram que aprender a lavrar a terra, pois, conforme afirmei no início desta postagem, exerciam outras atividades, anteriormente. No início sofreram bastante. José Ribeiro, embora tenha sido o último a chegar, foi decisivo para alavancar o aprendizado de práticas agrícolas, não porque tivesse passado por uma experiência anterior, mas porque era, por assim muito curioso, acredito - estou colocando uma opinião pessoal e que pode não ser real - acredito que  buscou nas leituras se inteirar e também pelo fato de  ter exercido atividades políticas anteriormente, mais facilmente estabeleceu relações com outros lavradores, vindo como consequência, apropriar-se dos conhecimentos necessários ao desempenho das atividades agrícolas em maior grau do que os demais Ribeiros. 

O fato é que José Ribeiro foi o mais bem sucedido. Se caracterizava por ser perfeccionista nos serviços realizados. Construção de cercas, valetas e o plantio das lavouras que, José Ribeiro não abria mão de que fossem realizados visando  o melhor efeito estético, isto é, em linha reta, não importando os obstáculos a serem superados. Também era bem articulado com representantes políticos, comerciantes de produtos agrícolas, especialmente donos de máquinas de arroz e gerentes do Banco do Brasil,  em Caarapó e em Dourados. Talvez - mais uma vez, ressalvo, em minha modesta opinião, portanto, pode não ser real-  tenha se destacado como agricultor e tenha sido melhor sucedido.

Em São Lourenço, o Tio José e a Edson Daniel,
os primeiros  lavradores a adquirirem
as trilhadeiras (colheitadeiras estacionárias)

O fato é que a Família Ribeiro aprendeu o ofício de lavrador, logo, ouso dizer que esta profissão deve constar no currículo dos Ribeiros que estiveram no São Lourenço. 

Outra característica dos Ribeiro, se pensarmos nas perspectiva intelectual, éramos uma espécie de elite em São Lourenço, via de regra, os mais escolarizados - exceção feita a Purcina que era analfabeta, porém, intelectualmente, posso dizer, muito avançada. Este talvez seja um outro fator que contribuiu para um relativo sucesso da Família Ribeiro no São Lourenço. Só não foram mais exitosos em virtude de as políticas agrícolas governamentais deste período, sem dúvida, terem sido projetadas para expulsar os camponeses e pequenos produtores rurais do campo.  

Mas seja como for, a Família Ribeiro exerceu em São Lourenço, liderança política, mesmo com os seus membros não tendo sido investidos de cargos políticos: vereadores, prefeito,deputados, etc. Registre-se que na fazendinha de Augusto Ribeiro se instalaram a Escola Rural Mista de São Lourenço, o Centro Espírita Allan Kardec, os  campos de futebol e a direção dos times estiveram sob a responsabilidade dos Ribeiros, além do mais,  Augusto Ribeiro se estabeleceu com um mini-armazém em São Lourenço, denominado por muitos de bolicho, o qual cumpriu o papel de posto de abastecimento dos membros da Família e de boa parte dos camponeses residentes em São Lourenço.

Observação: o meu ponto de vista pode ser contestado. Eu, inclusive, agradeço  quem argumentar seja para acrescentar, suprimir ou discordar. 

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