Meu Pai (Epifânio Ribeiro) gostava imensamente de leitura. Inúmeras vezes relatou vários romances que havia lido. Dotado de uma memória fantástica, por vezes, conseguia contar a história reproduzindo textualmente a forma como o autor havia redigido a narrativa, especialmente, quando feito sob a forma de poesia e versos.
Eu, o Alberto e o Mano Aurélio (Leinho - este um pouco menos porque faleceu ainda criança) e diversos sobrinhos de Epifânio, em São Lourenço, especialmente, à noite, tivemos o privilégio de ouvir as histórias contadas por Epifânio Ribeiro. Histórias e estórias invejáveis, prazeirosas e soníferas, porém, não prejudiciais a nossa saúde, e de quebra, nos permitiram dar muita asas a imaginação e termos um sono, deveras reparador.
Oportuno lembrar que nas décadas de 1960 e 1970, em São Lourenço, os camponeses não contavam com televisão, aparelhos de som e muito com serviços oferecidos por concessionárias de energia elétrica. O acesso a energia era feito ,recorrendo-se a pilhas e baterias, e, a preços estratoféricos. Com as pilhas e as baterias, os camponees ouviam seletos programas no rádio: alguns faziam opção por notícias, outros pelos programas de horóscopos (leia-se Tia Mocinha - o Omar Cardoso), outros, o futebol, isto porque as pilhas e as baterias descarregavam em pouco tempo e eram caríssimas.
Epifânio Ribeiro gostava também muito de ler jornais, especialmente a Folha de São Paulo e Folha de Londrina. Vez, por outra, comprava um número da Revista Fatos e Fotos, O Cruzeiro ou a Manchete.
Pois bem, num determinado dia eu estava lendo um exemplar do Jornal Folha de Londrina e eis que, uma de suasfolhas estava totalmente em branco. Eu disse para o meu pai: "olha o jornal veio com defeito". O meu pais sorriu e disse: "meu filho, não se trata de um defeito, a notícia a ser publicada foi censurada, haja vista que vivemos sob uma ditadura militar. Sendo assim a redação do jornal imprimiu esta folha em branco como forma de protesto e de informar ao leitor que não temos liberdade de imprensa no Brasil.
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