Em tempos de festas natalinas e de ano novo, fixei meu retrovisor na estrada da vida e me veio à lembrança, narrativa feita a mim pelo meu pai (Epifânio Ribeiro) relacionada ao preconceito que ele e os seus irmãos tinham em relação ao Tio Dé (Ildefonso Ribeiro), haja vista que o Tio, por ser o irmão caçula, desempenhava outras funções diferentes dos demais irmãos, que lavravam a terra, enquanto o Tio Dé, colocava água, milho, recolhia os ovos botados e dos ninhos das galinhas, bem como de outros animais tais como, cachorro, gatos, além de ajudar a vovó nas lides domésticas e por aí vai. Os irmãos, vítimas de extremo machismo diziam que, o Tio Dé parecia uma mulherzinha.
Anos mais tarde, em São Lourenço, local para o qual, parte da Família Ribeiro se instalou nos anos 1950 e no qual, os últimos Ribeiros permaneceram até o início do Século XXI, "a vida demonstrou que Deus, escreve certo, mesmo que em linhas tortas" e quanto os serviços outrora desempenhados e desdenhados por Ildefonso Ribeiro foram decisivos para o desenvolvimento dos Ribeiros e demais camponeses como lavradores em São Lourenço.
Enquanto Augusto Ribeiro e demais filhos se dedicavam a lavrar a terra em São Lourenço, a Ildefonso Ribeiro coube desempenhar atividades diversas: ministrar aulas, fazer o papel de agente de saúde, escriturário, etc., o que foi providencial para assegurar de uma certa forma uma relativa autossuficiência para os camponeses, diga-se de passagem, não só aos integrantes da Família Ribeiro e sim a todos os demais camponeses.
Ao ter assumido funções que, não as de lavrar a terra, Ildefonso Ribeiro possibilitou aos demais camponeses condições para lavrarem a terra, haja vista ter sido responsável pelo oferecimento de serviços que naquela quadra histórica a Prefeitura não oferecia, serviços relacionados aos setores de saúde, educação, assistência social, etc.
Além destes serviços, o Tio Dé, inúmeras vezes teve que ler e escrever cartas para muitos camponeses, cujas famílias não sabiam ler e nem escrever; pequenas cirurgias de bernes, de crianças que nasciam o sexto dedo, assistir as vacas nos partos; providencialmente e permanentemente o Tio Dé tinha sempre soro antiofídico e graças a tais cuidados salvou muitos camponeses de morrerem, vítimas de picadas de cobras; também se encarregou da organização burocrática da Escola Rural Mista de São Lourenço, juntamente com Maria Sinhá, desempenhando funções de diretor, secretário, professor e de limpeza da referida escola.
Em suma em uma sociedade, a divisão social do trabalho é necessária, e nem uma função é mais nobre ou menos nobre que a outra. Lavrar a terra, cuidar da saúde e educação da população, ser responsável pelos afazeres domésticos são imprescindíveis e condição necessária para o desenvolvimento das sociedades.
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