quinta-feira, 22 de abril de 2021

O PAPEL HERÓICO DAS MULHERES, EM SÃO LOURENÇIO NA BUSCA DA AUTOSSSUFICIÊNCIA

Queridos parentes, os relatos que temos feito até aqui sobre a estada de parte da Família Ribeiro, em São Lourenço, reproduz em boa medida, muito machismo, ou seja, ao lê-los, podemos ter a impressão de que apenas os homens realizaram feitos notáveis, por conseguinte,  heróicos. Ledo engano.  Normalmente citamos os nomes de Ildefonso, Epifânio, Antônio, José, Celso, Augusto e outros. Mas para sermos justos devemos fazer referência a inúmeras camponesas benfeitoras daquela comunidade. Eis algumas delas: Maria Sinhá,Eunice, Maria Senhora. Purcina Ferreira, Dona Joana, Dona Amélia, Dona Filisbina, dentre outras.

Como uma espécie de autopenitencia, achei por bem relatar um pouco na presente narrativa, grandes feitos das camponesas em São Lourenço, algumas,  pertencentes a Família Ribeiro e as demais, integrantes das demais famílias sertanejas residentes em São Lourenço.

A busca pela autossuficiência em São Lourenço nas décadas de 1950, 1960 e 1970 se constituiu em um grande desafio para os sertanejos. É sabido que, primeiramente a Prefeitura de Dourados e num segundo momento a Prefeitura de Caarapó, não disponibilizavam os serviços demandados nos setores de saúde pública, assistência social, lazer, educação e abastecimento popular.

Por conta disso, os camponeses e camponesas em São Lourenço adotaram como estratégia a auto-organização visando atingir a autossuficiência na oferta destes serviços. A seguir farei alguns relatos que evidenciam o que estou a dizer:

Corte, costura e confecção de roupas

Nas décadas de 1950,l960 e 1970, o Brasil não era ainda uma sociedade de consumo, os produtos industrializados, ou não, eram disponibilizados e quando o eram, se caracterizavam por uma oferta muito aquém da procura e por isso mesmo, caríssimos. Dito em outras palavras comercializados a preços proibitivos para a renda dos camponeses. .

Em sendo assim, a solução encontrada em São Lourenço, foi a de, os próprios camponeses ou camponesas fazerem as suas roupas. Ou melhor dizendo, alguns e algumas camponesas, haja vista que, nem todas tinham habilidade para tais proezas. No caso das camponesas pertencentes a Família Ribeiro, merecem destaque a Eunice Daniel e Maria Senhora.  As duas fizeram o curso de corte e costura, a Eunice, por correspondência e pelo Instituto Universal Brasileiro  e Maria Senhora, penso que também.   

As duas, costureiras excelentes. Maria Senhora, a partir dos anos 1980, quando veio morar em Dourados, trabalhou em casas de confecções de roupas muito conceituadas junto a elite douradense. 

No São Lourenço, as noivas e os noivos recorriam aos serviços  da Eunice ou da Maria Senhora para confeccionarem as suas roupas para a cerimônia de seus casamentos. Se não foram felizes no matrimônio, posso afiançar, a culpa não foi destas excelentes costureiras. Pra dizer pouco, elas foram e são verdadeiras artistas no mundo do corte, costura e da confecção.

No entanto, claro que como menos brilho e excelência, outras camponesas fizeram toda a diferença em São Lourenço, costurando e recuperando  roupas, dentre elas, Pulcina Ferreira, a matriarca da Família Ribeiro, a Lurdes Gabriel, acreditem, todas, sem exceção, davam boas "cassetadas" ou melhor dizendo, faziam calças, camisas, calções, ceroulas, remendavam e desta forma não deixavam a "peteca" cair;

 Solange  e Maria Senhora. Maria Senhora,
uma costureira talentosa



As primas, Marlene e Eunice, cumplicidade e 

ousadia  rumo ao sonho de estudarem e se 

qualificarem para trabalhar em outras 

atividades não relacionadas a lavoura.

Foram bem sucedidas e abriram

a porteira para as demais primas e primos.


Parteiras:

Nas décadas citadas, não havia o Sistema Único de Saúde, portanto, só tinham acesso aos serviços de saúde nos postos de saúde e hospitais, as pessoas que trabalhavam com carteira assinada, por conta de convênio com o Instituto da Previdência Social. Realidade na qual,  não se enquadravam os camponeses residentes em São Lourenço, 

Sendo assim, especialmente, os partos eram feitos em casa e as camponesas eram assistidas pelas tão faladas e abençoadas parteiras. Cito aqui algumas delas: Maria Sinhá, Dona Joana, Dona Amélia, Dona Filisbina, dentre outras. Estas mulheres, verdadeiros anjos ou anjas (como queiram), estão a merecer um reconhecimento maior por conta dos heroicos serviços prestados aquela comunidade. 


Temos ai, Maria Sinhá, ao lado seu esposo, José
Ribeiro. Maria Sinhá,  professora, parteira e de
personalidade muito forte

Normalmente após, o parto, elas tornavam-se comadres dos casais que assistiram. Eram consideradas a partir do momento que assistiam o Parto, integrantes da família. Algumas cobravam pelos honorários, todavia, uma pechincha. Prestavam este serviço muito mais por amor, por caridade e solidariedade do que por dinheiro. Sendo assim verdadeiras heroínas e dignas de nossa nossa consideração e gratidão.

Curandeiras e benzedeira

As enfermidades que vitimavam os camponeses e camponesas em São Lourenço: sarampo, caxumba, catapora, verminose, mau de sétimo dia e outras, eram curadas recorrendo-se as benzedeiras, curandeiras, dentre elas: Purcina Ferreira, Dona Joana. Elas sabiam como deveria se dar o ritual, quais as ervas mais adequadas para a cura de cada doença; sabiam como preparar as ervas; e sabiam a dosagem que deveriam ministrar dos remédios feitos a partir de tais ervas. Graças a elas, eu por exemplo, sou um dos que estou aqui fazendo este relato. De resto, as demais camponesas também detinham um bom conhecimento sobre a propriedade terapêutica de diferentes ervas, tais como: sabugueira, vassourinha, erva de santa maria, babosa, erva cidreira e outras. E desta forma compuseram a legião de benfeitoras da saúde pública em São Lourenço;

Pulcina Ferreira, a Matriarca da Família Ribeiro
curava as pessoas no plano espiritual (oração e 
água fluida) e físico, graças aos seus 
conhecimentos sobre as propriedades das ervas que 
 cultivava, um herbário bastante
diversificado.

Mas além deste trabalho de suporte aos camponeses, não se enganem, as camponesas, a maioria, quase 100% deram um duro danado ao lado de maridos e filhos, lavrando a terra e cuidando de animais como galinhas, porcos e gado bovino.


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