Como uma espécie de autopenitencia, achei por bem relatar um pouco na presente narrativa, grandes feitos das camponesas em São Lourenço, algumas, pertencentes a Família Ribeiro e as demais, integrantes das demais famílias sertanejas residentes em São Lourenço.
A busca pela autossuficiência em São Lourenço nas décadas de 1950, 1960 e 1970 se constituiu em um grande desafio para os sertanejos. É sabido que, primeiramente a Prefeitura de Dourados e num segundo momento a Prefeitura de Caarapó, não disponibilizavam os serviços demandados nos setores de saúde pública, assistência social, lazer, educação e abastecimento popular.
Por conta disso, os camponeses e camponesas em São Lourenço adotaram como estratégia a auto-organização visando atingir a autossuficiência na oferta destes serviços. A seguir farei alguns relatos que evidenciam o que estou a dizer:
Corte, costura e confecção de roupas
Nas décadas de 1950,l960 e 1970, o Brasil não era ainda uma sociedade de consumo, os produtos industrializados, ou não, eram disponibilizados e quando o eram, se caracterizavam por uma oferta muito aquém da procura e por isso mesmo, caríssimos. Dito em outras palavras comercializados a preços proibitivos para a renda dos camponeses. .
Em sendo assim, a solução encontrada em São Lourenço, foi a de, os próprios camponeses ou camponesas fazerem as suas roupas. Ou melhor dizendo, alguns e algumas camponesas, haja vista que, nem todas tinham habilidade para tais proezas. No caso das camponesas pertencentes a Família Ribeiro, merecem destaque a Eunice Daniel e Maria Senhora. As duas fizeram o curso de corte e costura, a Eunice, por correspondência e pelo Instituto Universal Brasileiro e Maria Senhora, penso que também.
As duas, costureiras excelentes. Maria Senhora, a partir dos anos 1980, quando veio morar em Dourados, trabalhou em casas de confecções de roupas muito conceituadas junto a elite douradense.
No São Lourenço, as noivas e os noivos recorriam aos serviços da Eunice ou da Maria Senhora para confeccionarem as suas roupas para a cerimônia de seus casamentos. Se não foram felizes no matrimônio, posso afiançar, a culpa não foi destas excelentes costureiras. Pra dizer pouco, elas foram e são verdadeiras artistas no mundo do corte, costura e da confecção.
No entanto, claro que como menos brilho e excelência, outras camponesas fizeram toda a diferença em São Lourenço, costurando e recuperando roupas, dentre elas, Pulcina Ferreira, a matriarca da Família Ribeiro, a Lurdes Gabriel, acreditem, todas, sem exceção, davam boas "cassetadas" ou melhor dizendo, faziam calças, camisas, calções, ceroulas, remendavam e desta forma não deixavam a "peteca" cair;
As primas, Marlene e Eunice, cumplicidade e
ousadia rumo ao sonho de estudarem e se
qualificarem para trabalhar em outras
atividades não relacionadas a lavoura.
Foram bem sucedidas e abriram
a porteira para as demais primas e primos.
Parteiras:
Nas décadas citadas, não havia o Sistema Único de Saúde, portanto, só tinham acesso aos serviços de saúde nos postos de saúde e hospitais, as pessoas que trabalhavam com carteira assinada, por conta de convênio com o Instituto da Previdência Social. Realidade na qual, não se enquadravam os camponeses residentes em São Lourenço,
Sendo assim, especialmente, os partos eram feitos em casa e as camponesas eram assistidas pelas tão faladas e abençoadas parteiras. Cito aqui algumas delas: Maria Sinhá, Dona Joana, Dona Amélia, Dona Filisbina, dentre outras. Estas mulheres, verdadeiros anjos ou anjas (como queiram), estão a merecer um reconhecimento maior por conta dos heroicos serviços prestados aquela comunidade.
Normalmente após, o parto, elas tornavam-se comadres dos casais que assistiram. Eram consideradas a partir do momento que assistiam o Parto, integrantes da família. Algumas cobravam pelos honorários, todavia, uma pechincha. Prestavam este serviço muito mais por amor, por caridade e solidariedade do que por dinheiro. Sendo assim verdadeiras heroínas e dignas de nossa nossa consideração e gratidão.
Curandeiras e benzedeira
As enfermidades que vitimavam os camponeses e camponesas em São Lourenço: sarampo, caxumba, catapora, verminose, mau de sétimo dia e outras, eram curadas recorrendo-se as benzedeiras, curandeiras, dentre elas: Purcina Ferreira, Dona Joana. Elas sabiam como deveria se dar o ritual, quais as ervas mais adequadas para a cura de cada doença; sabiam como preparar as ervas; e sabiam a dosagem que deveriam ministrar dos remédios feitos a partir de tais ervas. Graças a elas, eu por exemplo, sou um dos que estou aqui fazendo este relato. De resto, as demais camponesas também detinham um bom conhecimento sobre a propriedade terapêutica de diferentes ervas, tais como: sabugueira, vassourinha, erva de santa maria, babosa, erva cidreira e outras. E desta forma compuseram a legião de benfeitoras da saúde pública em São Lourenço;
Nenhum comentário:
Postar um comentário