O GRUPO DOS ONZE, O PCB e a Família Ribeiro
Para que você entenda um pouco do que tem a ver o
Grupo dos Onze com a Família Ribeiro, tenho a dizer que, em virtude do Tio
José, ser assinante do Jornal do Grupo, por muito pouco, os Ribeiros (o meu pai
e os tios Antônio, José, Celso e Ildefonso) não foram presos sob a acusação de
serem militantes do Partido Comunista Brasileiro – PCB.. Mas antes de
prosseguir neste relato, transcrevo aqui a análise de Sérgio Lamarão, copilada de autores CARNEIRO, G. História; DULLES, J. Unrest; Estado de S.
Paulo (15/06/65, sobre o Movimento intitulado: “Grupo dos Onze”:
“Movimento
também conhecido como Grupos dos Onze Companheiros, criado em fins de outubro
de 1963, pelo então deputado federal Leonel Brizola, com o objetivo de lutar
pela implantação das chamadas reformas de base (agrária, urbana, educacional,
bancária etc.) preconizadas pelo presidente João Goulart, e pela “libertação do
Brasil da espoliação internacional”. Foi desarticulado após o movimento
político-militar de 31 de março de 1964.
A ideia dos
grupos dos Onze, grupos de pressão mais amplo visando à reestruturação do
quadro socioeconômico do país, foi lançada por Brizola através de uma rede
nacional de emissoras de rádio. A Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, que
era frequentemente utilizada por Brizola em seus apelos à população,
centralizou a organização do movimento, recebendo milhares de formulários
preenchidos por grupos dos Onze já constituídos. O recrutamento para os grupos
também era feito por intermédio de organizações nacionalistas como a Frente de
Mobilização Popular, além da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT) e outras.
Como o nome
indica, cada Grupo dos Onze era formada por 11 pessoas, uma das quais o comandava.
Onze grupos compunham uma unidade-distrito, 22 distritos constituíam uma
província e 11 províncias integravam uma região. Segundo Glauco Carneiro,
existiram no Brasil 1.298 grupos dos Onze. No início de 1964, Brizola afirmou
que os grupos já contavam com cerca de duzentos mil integrantes.
Na prática, porém, o movimento nunca teve um funcionamento efetivo. “Uma das poucas atividades desenvolvidas de forma mais sistemática foi à venda, a divulgação e a coleta de assinaturas do semanário nacionalista O Panfleto, nos meses de fevereiro e março de 1964.”
O que se pode dizer é que, em que pese toda a debilidade do Grupo dos Onze, esta organização tirava o sono das forças repressoras.
Em São Lourenço, como
já observado no início desta postagem, o Tio José era assinante do jornal do
Grupo dos Onze e por conta disso a Família Ribeiro foi colocada sob suspeita
pelo regime militar de ser comunista e, só não prenderam os seus membros, porque o acesso ao São Lourenço era muito
difícil. Pra se ter uma ideia, em períodos chuvosos, nos anos
1960, até mesmo tratores ficavam atolados nas estradas que davam acesso ao nosso querido São
Lourenço; também providencial, foi a intervenção do
Tabelião, Manoel Pinheiro, proprietário de um tabelionato em Nova América, o
qual, minimizou o peso de tais informações, em conversa que teve com os agentes
da repressão. Manoel Pinheiro, muito amigo da Família Ribeiro,
disse aos agentes para que ficassem sossegados, assegurado aos mesmos que a
Família Ribeiro era constituída de gente muito boa, simples e sofridos lavradores.
O FAKE NEWS JÁ EXISTIA
Aproveito para
relatar que naquela período histórico, já existiam Fake News, claro que não
virtuais, mas que existiam, ah e como existiam! Um dessas notícias falsas e que
provocou grande terror aos camponeses em São Lourenço, especialmente, a minha
mãe é o que dizia que panfletos, jornais e livros, mesmo que fossem queimados,
se os peritos recolhessem as cinzas poderiam reconstituir o texto e saber sobre
quais assusntos o que o mesmos tratavam.
O pavor de minha
mãe era tanto que, ela recolheu tudo que era material impresso (livros, jornais
e livros) os colocou em uma mala e adentrou no mato, tomado por uma vegetação
de quaragatá, no meio da qual, escondeu este material. Me lembro, que eu queria
ir junto com ela, porém, minha mãe me dava duras broncas, por razões óbvias,
qual seja, o receio de que se os agentes da repressão fossem até a nossa casa, eu
poderia dar com a “língua nos dentes”.
Por mais que eu
insistisse em saber do que se tratava, ela simplesmente respondia, isso daqui é
especula.
Claro que naquele período eu não sabia o porque de tanto mistério e preocupações de minha mãe. Vim saber, anos mais tarde, em conversas que tive com o meu pai.
Planta Quaragatá.
Foto extraída no seguinte endereço eletrônico:
https://www.google.com/search?q=caraguat%C3%A1+do+mato&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjD-6azlfT3AhUoLrkGHQawA2UQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1366&bih=625&dpr=1#imgrc=bytAWwM0CJol3M
Nenhum comentário:
Postar um comentário