sábado, 28 de maio de 2022

SAÚDE PÚBLICA EM SÃO LOURENÇO

No São Lourenço, nas décadas 1960 e 1970, os camponeses, dentre eles, membros da Família Ribeiro, gabavam-se por  nunca terem ido ao médico. Esta frase era dita, acreditem, por camponeses acima, inclusive, dos 40 anos. Nunca ter ido ao médico para àqueles acima dos 40 anos, equivalia a um grande feito, merecedor de um troféu.

Não havia a compreensão de que devemos ir ao médico, não apenas quando estamos doentes, mas também, e principalmente, como medida preventiva contra certas doenças que podem se manifestar, costumeiramente acima dos 40 anos, algumas delas, hereditárias.

Aliás, era comum, os camponeses recorrerem as ervas medicinais  (a vovó Pulcina sabia como ninguém as propriedades terapêuticas das ervas, como prepará-las e a dosagem a ser ministrada, segundo a enfermidade apresentada pelas pessoas, em síntese a vovó, era comparável a uma índia, neste quesito); era comum também, os camponeses recorrerem aos préstimos das benzedeiras visando a cura de determinadas enfermidades

Todavia, atualmente, existe uma outra mentalidade, a de que, irmos ao médico não é nenhum demérito, muito pelo contrário, é o correto. Lembro-me também que, nas décadas citadas, não havia o Sistema Único de Saúde, e ir ao médico, se visto sob a ótica financeira, era praticamente proibido aos camponeses, os quais,  só viam a cor do dinheiro, em períodos de colheitas, e diga-se de passagem, nos anos de boas colheitas.

O acesso aos médicos se estendia somente ao trabalhador com carteira de trabalho assinada, porque contribuía com o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), o que não era o caso dos camponeses em São Lourenço. Não tendo carteira de trabalho assinada era preciso recorrer ao médico particular, e a situação dos camponeses em São Lourenço, não permitia tais “mordomias”

O fato é que, a ação combinada destes fatores, quais sejam: crença imensa dos camponeses no poder terapêutico das ervas medicinais e das curandeiras ou benzedeiras; não trabalharem com carteira assinada; inexistência do Sistema Único de Saúde (SUS); e a baixa renda contribuiu em muito para esta aversão aos médicos.

Todavia, atualmente, precisamos estar vigilantes para não irmos para outro extremo, a de achar que os médicos tem solução pra toda e qualquer enfermidade. É preciso que nos apropriemos do grande legado dos camponeses, indígenas e outros povos com as práticas da medicina natural, numa ação combinada com  as descobertas da ciência, avançarmos em políticas públicas de saúde, fundamentada pois, em saberes populares e na ciência.

Diante deste contexto é possível compreendermos, o papel de agentes de saúde desempenhado em São Lourenço por Maria Sinhá, Dona Filisbina, Dona Joana Lopes e outras como parteiras; da vovó operando verdadeiros milagres com os seus conhecimentos relativos as propriedades terapêuticas das ervas medicinais, combinados com a água fluida durante as sessões espíritas, contando, com a colaboração complementar, neste último quesito de seus filhos Antonio e Ildefonso e de seu sobrinho Antônio Costa, os quais  aplicavam os passes magnéticos para tratar das enfermidades espirituais dos enfermos.

E o Tio Dé, lembro-me, previdentemente, tinha permanentemente soro antiofídico, remédio com o qual, salvou a vida de muita gente. Tio Dé, Tinha também estojos para aplicar injeção, os quais, não eram descartáveis, por isso tinham que ser esterilizados com água quente sempre que os utilizava. O Tio Dé, também fez algumas cirurgias em crianças nascidas com o sexto dedo em uma das mãos.

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