No São Lourenço, nas décadas 1960 e 1970, os camponeses, dentre eles, membros da Família Ribeiro, gabavam-se por nunca terem ido ao médico. Esta frase era dita, acreditem, por camponeses acima, inclusive, dos 40 anos. Nunca ter ido ao médico para àqueles acima dos 40 anos, equivalia a um grande feito, merecedor de um troféu.
Não havia a
compreensão de que devemos ir ao médico, não apenas quando estamos doentes, mas
também, e principalmente, como medida preventiva contra certas doenças que podem
se manifestar, costumeiramente acima dos 40 anos, algumas delas, hereditárias.
Aliás, era
comum, os camponeses recorrerem as ervas medicinais (a vovó Pulcina sabia como ninguém as
propriedades terapêuticas das ervas, como prepará-las e a dosagem a ser ministrada,
segundo a enfermidade apresentada pelas pessoas, em síntese a vovó, era
comparável a uma índia, neste quesito); era comum também, os camponeses
recorrerem aos préstimos das benzedeiras visando a cura de determinadas
enfermidades
Todavia,
atualmente, existe uma outra mentalidade, a de que, irmos ao médico não é
nenhum demérito, muito pelo contrário, é o correto. Lembro-me também que, nas
décadas citadas, não havia o Sistema Único de Saúde, e ir ao médico, se visto
sob a ótica financeira, era praticamente proibido aos camponeses, os quais, só viam a cor do dinheiro, em períodos de
colheitas, e diga-se de passagem, nos anos de boas colheitas.
O acesso aos
médicos se estendia somente ao trabalhador com carteira de trabalho assinada,
porque contribuía com o Instituto
Nacional da Previdência Social (INPS), o que não era o caso dos camponeses
em São Lourenço. Não tendo carteira de trabalho assinada era preciso recorrer
ao médico particular, e a situação dos camponeses em São Lourenço, não permitia
tais “mordomias”
O fato é que,
a ação combinada destes fatores, quais sejam: crença imensa dos camponeses no
poder terapêutico das ervas medicinais e das curandeiras ou benzedeiras; não
trabalharem com carteira assinada; inexistência do Sistema Único de Saúde
(SUS); e a baixa renda contribuiu em muito para esta aversão aos médicos.
Todavia,
atualmente, precisamos estar vigilantes para não irmos para outro extremo, a de
achar que os médicos tem solução pra toda e qualquer enfermidade. É preciso que
nos apropriemos do grande legado dos camponeses, indígenas e outros povos com as práticas da medicina natural, numa ação combinada com as descobertas da ciência, avançarmos
em políticas públicas de saúde, fundamentada pois, em saberes populares e na
ciência.
Diante deste
contexto é possível compreendermos, o papel de agentes de saúde desempenhado em
São Lourenço por Maria Sinhá, Dona Filisbina, Dona Joana Lopes e outras como
parteiras; da vovó operando verdadeiros milagres com os seus conhecimentos relativos
as propriedades terapêuticas das ervas medicinais, combinados com a água fluida
durante as sessões espíritas, contando, com a colaboração complementar, neste último
quesito de seus filhos Antonio e Ildefonso e de seu sobrinho
Antônio Costa, os quais aplicavam os passes magnéticos para tratar das enfermidades
espirituais dos enfermos.
E o Tio Dé,
lembro-me, previdentemente, tinha permanentemente soro antiofídico, remédio com o
qual, salvou a vida de muita gente. Tio Dé, Tinha também estojos para aplicar
injeção, os quais, não eram descartáveis, por isso tinham que ser esterilizados
com água quente sempre que os utilizava. O Tio Dé, também fez algumas cirurgias
em crianças nascidas com o sexto dedo em uma das mãos.
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