terça-feira, 15 de novembro de 2022

TRATAMENTO DENTÁRIO EM SÃO LOURENÇO, COMO ERA?

A partir da segunda metade do Século XX, parte da Família Ribeiro se instalou no São Lourenço, dedicando-se a atividade de lavrar a terra, praticando uma agricultura de subsistência. Tempos difíceis, haja vista que os serviços oferecidos primeiramente pela Prefeitura Municipal de Dourados  até 1958, última ano de Caarapó como  Distrito de Dourados; depois pela Prefeitura Municipal de Caarapó, nos setores de saúde, educação, assistência social e outros, quando oferecidos se davam em grau muito aquém do ideal. Via de regra, tais serviços, não eram oferecidos.

Na presente postagem me ocuparei de relatar, ainda que superficialmente, sobre a prestação de serviços odontológicos. Este serviço simplesmente não era prestado, quem dele necessitasse, precisava pagar. Sabendo que os agricultores praticavam uma agricultura de subsistência, dificilmente tinham algum cobre no bolso. Quando tinham algum cobre no bolso, coincidia com o período de colheitas que naquela quadra histórica, era apenas uma vez ao ano. 

Pois bem, sendo assim, os camponeses, não iam ao dentista, e comumente alguém (adulto e crianças), com um dente cariado "curtia", não raro uma dor de dente medonha. Lembrando que não havia, como atualmente, remédios anestésicos em tanta abundância e com tanta diversidade. Em São Lourenço, a vovó Pulcina tinha um vaso com uma planta que ela denominava de agrião, a qual, uma vez mastigada anestesiava a dor. Só para dimensionar o tamanho do desconforto, o dente cariado ou infeccionado provocava, além da dor,  o inchaço local da gengiva, o que rendia gozação dos demais sobre a vítima.

Havia um dentista em Nova América, o João Dentista que, de tempos em tempos, pegava o seu jipe e o boticão, e passava de casa em casa  se oferecendo para efetuar algum tratamento, limpeza, extração de dente. Aliás, extrair o dente, era quase sempre a opção adotada. O problema é que os camponeses não tinham dinheiro em  moeda. Em sendo assim, a solução era efetuar o pagamento em produtos tais como ovos de galinha, galinhas, leitoas, etc., produtos que o João Dentista aceitava.

Aproveito para dizer que nas décadas de 1950, 1960 e 1970 e boa parte da década de 1980 não havia o Sistema Único de Saúde (SUS), O SUS foi, felizmente, instituído em 1988. Quem tinha acesso aos serviços de saúde sem pagar consulta particular, eram somente os trabalhadores com carteira assinada que pagavam o INAMPS - Instituto Nacional da Previdência Social. O INAMPS era uma espécie de Plano Privado de Saúde, isto é, não era universal como o SUS, só era beneficiado quem o pagasse.

Em São Lourenço, os lavradores eram regidos por relações de trabalho não genuinamente capitalista (arrendatários, peões, diaristas, empreiteiros) e proprietários, os quais devido aos poucos rendimentos, jamais poderiam recolher para o INAMPS. Moral da história "comeram o pão que o Diabo amassou"



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