sábado, 17 de dezembro de 2022

A celebração do natal em São Lourenço

 Estamos mais em um final de ano e, aproveitei para fazer uma viagem ao passado, pra ser mais preciso aos anos 1960 e 1970, em um lugar denominado de São Lourenço, lugar de tantas lembranças, embora de muito sacrifício para os sertanejos, dentre eles, os pertencentes a Família Ribeiro. Em que pese a vida difícil, também teve os seus encantos e os fatos que lá experenciamos, todos sem exceção, não esquecem tais experiências, e digo mais, sentem uma ponta de saudade. 

Pois bem, nos finais de anos em São Lourenço, no Centro Espírita Allan Kardec, no dia 24 de dezembro, véspera do natal, eram realizados eventos celebrando o aniversário de Jesus Cristo. As celebrações eram marcadas por reflexões sob a forma de palestras, dramatizações, declamações de poemas e oferta de brindes, especialmente para as crianças (bala doce, brinquedos tais como pequenas bonecas, bolas de plástico e outros brinquedos de pequeno valor). Estes brindes eram viabilizados pelos dirigentes espíritas - Antônio Costa, Ildefonso e Antônio Ribeiro -, brinquedos que eles conseguiam fazendo uma peregrinação junto aos comerciantes da cidade de Dourados e de Nova América, dos quais, eram fregueses os integrantes da Família Ribeiro e também os demais sertanejos de São Lourenço. Destes o mais empenhado era Ildefonso Ribeiro, que por vezes, complementava do próprio bolso, comprando mais brinquedos para fazer a festa da criançada no velho, sofrido e bom São Lourenço

As instalações do Centro Espírita Allan Kardec eram decoradas de forma simples, mais cumprindo o objetivo, a quem prestigiasse o evento, qual seja, a de entrar no espírito natalino. Antecedendo ao dia da celebração, nas reuniões da pré-mocidade e da mocidade espírita, as apresentações culturais (mini-peças teatrais, canções, poemas eram escolhidas e ensaiadas); Ildefonso Ribeiro, às vezes, em algumas destas comemorações, tomado de inspiração do espírito natalino, compunha ou rearranjava pequenas histórias no formato teatral para serem apresentadas. Vale dizer que estas encenações eram muito apreciadas, plenamente aprovadas; mesmo em meio a tantas dificuldades financeiras, algumas destas apresentações, as personagens eram devidamente caracterizadas com roupas e adereços que remetiam a platéia assistente, no plano imaginário, claro, a ter a sensação de estar nos lugares por onde transitou cristo e os seus discípulos.

Estes eventos contavam com a participação dos sertanejos, não só espiritas ou simpatizantes, mas dos demais fiéis a outras religiões, especialmente, o catolicismo. Em síntese, se constituíram, simultaneamente em momentos de reflexão e lazer. Por estas e outras ações dos espiritas em São Lourenço, não é exagero dizer que, o Centro Espírita Allan Kardec cumpriu um papel de ser, simultaneamente, um espaço de cultivo e propagação dos princípios religiosos, filosóficos e éticos do espiritismo kardecista, mas também, de lazer, de cumplicidade e de assegurar aos camponeses maior resiliência e determinação no enfrentamento aos rigores da vida em um sertão, qual seja, a situação em que se encontrava o São Lourenço nas décadas de 1960 e 1970.

No dia seguinte, os festejos  o almoço eram um pouco mais reforçados, porém, bem mais modesto do que atualmente. A bebida presente, via de regra era, o vinho. Cerveja, não figurava nestas atividades. Por  vezes, o Peru. Aliás, em São Lourenço, a Tia Sinhá, criava Perus, e neste dia, o almoço de natal, em sua casa, era servido a carne de peru. Alguns camponeses, se tinham algum cobre no bolso, na véspera do natal, davam um pulo em nova América pra comprarem alguns quilos de carne de vaca. Mais a maioria ia de um"franguinho" na panela.

Mas registre-se: mesma em meio a tantas dificuldades, o natal, exerceu o seu papel mágico sobre os camponeses, e sem dúvida, estas comemorações, embora singelas, contribuíram para maior felicidade dos sertanejos residentes em São Lourenço.


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