segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

LOTERIA NOS ANOS 1970

Na década de  1970, a loteria esportiva era a grande vedete dos jogos lotéricos, ao lado, claro, da loteria federal. Todavia, os jogos naquele período histórico não eram autenticados em tempo real. Em São Lourenço, os camponeses aderiram a loteria esportiva. 
COMO ERAM FEITOS OS JOGOS?
Os volantes (cartelas) eram preenchidos e alguém que vinha a Nova América, às vezes, somente para efetuar os jogos, trazia os apostas de todo mundo e as entregava ao Salu relojoaria e bicicletaria que possuía em Nova América. Todavia, a autenticação na era feita em tempo real. O Salu vinha com os jogos até uma lotérica existente em Dourados, para aí, então autenticar as apostas de cada um. As apostas se não me falha a memória podiam ser feitas até quarta feira de cada semana. Claro que o Salu ganhava uma comissão, sobre cada aposta. E, claro, também, havia uma relação entre os apostadores e o Salu
OS SORTEADOS NA FAMÍLIA RIBEIRO
Na Família Ribeiro, residente em São Lourenço, apenas a Tia Josefa conseguiu ser premiada. No entanto, a Edna Maria Ribeiro Moraes (nossa prima) , em Campo Grande, foi sorteada, comprando com parte do dinheiro ganho nas apostas, um Maverick, um carro de luxo,  nos anos 1970. E o Zé Carlos, como a Edna não sabia dirigir,  apareceu  com este carro em São Lourenço. Não precisa dizer que chamou a atenção e fez muito sucesso.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

DIVINO, UMA FIGURA





DIVINO EM SUA BICICLETARIA, 
AVENIDA WEIMAR GONÇALAVES
DOURADOS (MS)


Divino Cláudio da Luz, 61 anos, nascido em São Paulo, chegou para morar em Café Porã[1], no dia 02 de agosto de 1960, então uma criança. O seu pai chegando ao Café Porã, como não poderia deixar de ser, foi trabalhar com o cultivo do café[2], na condição de arrendatário.
Divino tendo ido morar em Café Porã, depois de algum tempo, acabou por conhecer praticamente todos os moradores do São Lourenço, especialmente, Epifânio Ribeiro. O relato feito por Divino, mesmo  não tendo sido morador de São Lourenço e nem trabalhado nas terras pertencentes à Família Ribeiro, foi incluído, amigo leitor, porque, o Sr. Sebastião Ferro (pai de Divino), morava há cerca de 300 metros da nascente do Córrego São Lourenço, logo permitirá a você compreender um pouco mais sobre este lugar e a sua gente.


Enio Ribeiro (eu), Córrego São Lourenço,
09/02/2020

 Este córrego é peça chave para a compreensão do processo de ocupação e do comportamento dos camponeses residentes em São Lourenço e adjacências.
Neste relato, o Divino que conta com uma memória fantástica, não se limitou a relacionar os fatos, fez questão de discriminar as datas em que os mesmos ocorreram.   Relatos que permitirão a você, leitor, compreender um pouco mais sobre São Lourenço, história que Divino a contou sem parar de trabalhar, andando de um lado a outro  em sua bicicletaria, concertando e atendendo simultaneamente, os seus clientes. Aliás, o Divino é uma pessoa inquieta, fala atropeladamente, ora rindo, ora ficando bem sério e declarou ser apaixonado pela profissão que escolheu, qual seja, mecânico de bicicletas. Pois bem, feitas estas considerações, descreverei o teor da narrativa feita a mim pelo Divino.
Sebastião Adelino da Luz (pai do Divino), conhecido popularmente como Sebastião Ferro, possuía uma bicicleta brasiliana, ano 1958, na qual, fez longas pedaladas em Café Porã, São Lourenço, Caarapã, Laguna, Nova América, Liberal, Pindaivão, Cerrito e a Aldeia Indígena Tatupiré. Nestes passeios - acrescentou Divino -, “o meu pai me levava, o que me permitiu conhecer os moradores desta região, dentre eles, os membros da Família Ribeiro”.
Divino revelou que além de pedalar, uma barbaridade pela região, o seu pai, em sua folclórica bicicleta brasiliana, era um exímio capador de porcos, habilidade que o fez muito conhecido, popular e muito solicitado pelos camponeses de Café Porã, São Lourenço e região. Aliás, Sebastião Ferro, ressaltou Divino, estava sempre pronto para castrar algum animal. Não cobrava por tais serviços, os realizava pelo prazer em demosntrar o quanto era habilidoso na castração de suínos.
Divino disse que existiu em Café Porã, uma aldeia indígena, denominada de Tatupiré, cujos indígenas transitavam frequentemente por toda a região. Que Sebastião Ferro, inúmeras vezes contratou a mão de obra indígena para trabalhar no desmatamento[3] das terras que arrendara para plantar café e  que o seu pai,  frequentemente, a semelhança dos demais camponeses que contratavam mão de obra indígena para a lida na lavoura,  oferecia cachaça para os indígenas trabalharem, já que, corria de boca em boca que, sob o efeito do álcool, estes eram mais produtivos. Os proprietários podiam deixar faltar alimentos, mas  aguardente [4], não podia faltar (risos).
Naquele período histórico, a caça era abundante na região, logo a alimentação para os trabalhadores indígenas não exigia muita preocupação. Estes eram exímios caçadores, se internavam nas matas e abatiam pacas, veados, perdizes, codornas, etc., logo não era preciso se preocupar com a alimentação dos mesmos.  Mas Sebastião Ferro, em alguns momentos, também recorreu a mão de obra paraguaia.
Sobre o Córrego São Lourenço, Divino relatou que por ter morado muito próximo de suas nascentes, muitas e muitas vezes foi até as mesmas brincar. Do Córrego São Lourenço afirmou que guarda saudosas lembranças, já que neste córrego, pescou, brincou, tomou banho, etc., viveu experiências extremamente marcantes em sua infância.
Sebastião Ferro morou em Café Porã até dia 22/09/1972, sendo que neste mesmo ano mudou-se com a família para Dourados. Sete dias depois, 29/09/72, Divino começou a trabalhar como empregado na Bicicletaria Universal[5], localizada na Avenida Marcelino Pires, na qual, trabalhou até 1985. Depois disso estabeleceu-se como proprietário de uma bicicletaria na Avenida Marcelino Pires e ainda, em 1985, para ser mais exato, 29/03/1985, instalou-se definitivamente com a mesma na Avenida Weimar Gonçalves Torres, endereço em que se encontra até hoje.
O Divino é uma figura folclórica, palmeirense apaixonado e zoador. Adora falar de esporte, política e religião. Aliás, um católico muito dedicado. Sobre estes três assuntos, quem se dispuser a ir até a sua bicicletaria, se tiver gás, poderá conversar o dia todo. É uma prosa sem fim. Aliás, o meu irmão o Paulinho, botafoguense doente, frequentemente vai até a bicicletaria do Divino, tendo ou não necessidade de consertar a sua bicicleta. E aí, imaginem a conversa que rola entre os dois.




[1] Café Porã, como o próprio nome sugere, era grande produtor de café e limita-se com o São Lourenço;
[2] Divino relatou que no período descrito, somando-se as plantações de todos os cafeicultores, em Café Porã, existiram 1.700.000 mil pés de café plantados.

[3] As derrubadas eram feitas costumeiramente de janeiro a junho, enfatizou Divino;
[4] Fornecer cachaça aos indígenas era e é proibido por lei. Os camponeses, porém, ignoravam tal legislação, de um lado porque não existia fiscalização rigorosa e também porque faltava sensibilidade aos camponeses de perceberem os trabalhadores indígenas como sendo seres humanos, portanto, iguais direitos aos trabalhadores não indígenas;
[5] Era a maior bicicletaria de Dourados. Esta bicicletaria não existe mais;



terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

A ESCOLINHA DE SÃO LOURENÇO: ANTES E ATUALMENTE


 Postei aqui dois registros na forma de imagem sobre a Escola Rural Mista de São Lourenço, numa delas, como era esta Escola, quando estava preservada e a segunda imagem como ela se encontra atualmente.



Esta aqui é a última versão da Escola, já que, anteriormente duas outras instalações físicas foram construídas para o funcionamento da mesma. Em 1956, foi feita a primeira instalação, diga-se de passagem, coberta de pindó (folha de coqueiro); e a segunda, década de 1960, uma pouco melhor, mas de madeira e a última versão (esta foto) de alvenaria.



Atualmente a Escola está em ruínas, 
servindo de abrigo para o gado.

Observação 1: estou dizendo que teve três versões desta Escola, com base no depoimento de um primo, porque, eu particularmente, só me lembro de duas versões;

Observação 2: nesta Escola, em sua última versão, ou seja, de alvenaria, eu e o Alberto fizemos o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos), programa  implantado pelo Governo Federal, Emílio Garrastazu Médici, numa tentativa de reduzir os índices de analfabetismo no Brasil. 
Eu e o Alberto,  havíamos, concluído a 4ª série (última série do primário - atualmente os quatro primeiros anos são denominados de séries iniciais do ensino fundamental) na Escola Rural Mista de São Lourenço. Porém, como não era ofertado o ginásio nesta Escola, por razões óbvias, ser uma escola rural, e como nós não tínhamos condições de vir para Dourados ou Caarapó cursar o ginásio, resolvemos fazer o MOBRAL, apenas para não esquecermos o que tínhamos apreendido e também por diversão, porque, achávamos legal, todas a noites encontrar rapazes e moças, e sem aquele peso moral de estudar pra valer, já que dominávamos o conteúdo. Acredito que esta era a situação do Augusto e do Toinho, todavia, que outros primos ou eles próprios, confirmem ou não o que estou afirmando;
Observação 3: quem tinha o privilégio de cursar o primário completo, especialmente, apropriava-se de um conteúdo mais profundo do que os nove anos atuais, que correspondem ao ensino fundamental completo. 
Observação 4: ainda com base em uma conversa que tive com o Tio Antônio, alguns anos atrás, ele relatou que para a  implantar a Escola Rural Mista de São Lourenço, Augusto Ribeiro (meu avô) se articulou com Antônio Emílio de Figueiredo,um político influente em Dourados, e o vovô,  era membro do mesmo Partido político que ele integrava. Tio Antônio relatou também que no momento em que se discutia a instalação desta Escola, Antônio de Figueiredo, sugeriu que o professor da mesma fosse Ildefonso Ribeiro, filho caçula de Augusto Ribeiro. Porém, Ildefonso Ribeiro, disse que aceitaria o desafio, se mediante consulta aos camponeses, os mesmos concordassem, o que acabou acontecendo, e Ildefonso se tornou o professor e também o Diretor desta Escola.
Observação 5: em uma conversa que fiz com o Francisco Barcelo, o Chicão (foto abaixo), ele disse que em Dourados, nos anos 1970, quando o êxodo rural se fez sentir duramente em São Lourenço, a semelhança do que ocorria em todo o Brasil, por conta das perversas políticas agrícolas adotadas pelos governantes brasileiros, os camponeses residentes em São Lourenço, em especial, os mais jovens, vinham procurar emprego junto as empresas existentes em Dourados, e a resposta, que recebiam era a seguinte: se são alunos oriundos da Escola do São Lourenço, merecem ter  uma oportunidade. 
Esta revelação, por si só, nos dá uma ideia do excelente conceito desfrutado por esta Escola.

Francisco Barcelo, o Chicão, estudou na 
Escola Rural Mista de São Lourenço.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

DE VOLTA AO SÃO LOURENÇO

Ontem eu, o Paulinho (meu irmão) e a Cristina, uma integrante do grupo de ciclistas denominado de BIKE TERAPIA, lembrando que o Paulinho também integra este grupo, fomos pedalando de Dourados até o São Lourenço, Nova América e finalmente o retorno a Dourados, um percurso  de 97 quilômetros. Eu havia feita uma pedalada ao São Lourenço, com este mesmo itinerário, em Janeiro de 2017. Novamente, a nostalgia tomou conta, e, ao mesmo tempo, uma tristeza por saber que a nossa Escolinha, está em ruínas e entregue ao gado. Por conta disso procurei o vereador Bagaceira (filho do Zé Cearense) para ver se é possível tombá-la e assim preservar uma Escola que tem uma história muito bonita e relevante para o município de Caarapó e Região. O Paulinho já havia procurado o  vereador para tratar desta questão. Dei mais uma cutucada, vamos aguardar pra ver o que acontece.


Esta é a casa que pertenceu a Tio Dé e Família, em Nova América.
Nesta casa, eu, o Alberto, o Toinho e o Augusto, no ano de 1975, quando chegávamos de São Lourenço, trocávamos de roupa, já que deixávamos os uniformes na casa do Tio Dé e então íamos para a Escola Frei João Damasceno.

Registro do momento, no dia de ontem, quando eu, o Paulinho e a Cristina no mata-burro que delimita o São Lourenço de Liberal. Observação, o mata-burro não é mais de madeira e sim de ferro. Tempos modernos.



Eu fazendo a reivindicação junto ao vereador Bagaceira (filho do Zé Cearense) para apresentar um projeto de tombamento da Escola Rural Mista de São Lourenço, visando a preservação de uma Escola que tem história muito bonita, sofrida e que cumpriu uma função social muito importante.


 E aqui o registro feio ontem (09/02/2020)  na forma de imagem de como se encontra a Escola Rural Mista de São Lourenço, uma tragédia para a história de São Lourenço e por extensão de Caarapó.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A MINHA EXPERIÊNCIA NA CASA DOS TIOS

Em 1974,vim morar em Dourados, na casa do Tio Miguel e da Tia Antônia. Estava fazendo o curso de radiotécnico pelo Instituto Universal Brasileiro. Então o meu pai conversou com a Tia Antônia e o Tio Miguel para saber se eu podia ficar na casa deles. Os tios prontamente, consentiram. 
A rua que o Tio Miguel morou, anos mais tarde,
 com a Tia Antônia e a Vovó Purcina,  hoje  tem o seu nome, uma justa homenagem a ele, localizada na Vila Cohab II, 
próximo ao Cachoeirinha

Durante o dia eu ia para a Radiotécnica Universal e a noite eu estudava, a então 5ª série, no Colégio Oswaldo Cruz. No entanto, ser técnico de rádio, não era a minha praia. Na casa de Tia Antônia morei até novembro de 1974. 
Mas o meu pai não desistiu. em 1976, conversou com a Tia Maria e acertou que eu ia morar em Campo Grande e estagiar numa radiotécnica, cujos donos eram uruguaios e muito amigos do Zé Carlos. Mas, novamente, não fui bem sucedido. A verdade é que fiquei apenas metade do ano na dita radiotécnica. Depois fui trabalhar na Serralheria Gradelar, pertencente a Família Moraes. Fiquei lá até maio de 1978, quando fui para o exército. Em 1979, voltei para Dourados.
A minha estadia em Dourados, foi muito legal. A Tia Antônia sempre me tratou com carinho maternal e o Tio Miguel sempre boa prosa. O Edmilson, sempre com aquelas brincadeiras e o Augusto até por termos a mesma faixa etária, íamos muito ao Cine Ouro Verde. O Renato, nestas idas ao cinema, várias vezes se somava a nós, já que a casa do Tio José, sito a Rua Palmeiras, era muito próxima.
A Tia Antônia morava na rua Araguaia, se não me engano.


Foto da casa, embora duplicada, dá  uma ideia.
  Augusto Daniel em frente 
 se deixou fotografar para perpetuar recordações
tão significativas.


 Íamos a pé até o cinema.Pra a Escola Oswaldo Cruz, eu ia a pé, e tendo a companhia do Mauro, o filho do Seo Alfredinho, já que estudava na mesma Escola. Na volta, passávamos na Padaria Imaculada Conceição, quando tínhamos alguns trocados e comprávamos um pão bem grande, não era pão  bengala. Pensa na nossa felicidade. Entrávamos na sala de fabricação dos pães. Conhecíamos os funcionários da mesma. 
Bom, sobre o Edmilson, eu me lembro que ele foi ao Paraguai e comprou um gravador a pilha. Naquela época uma revolução, Ele utilizava uma fita cassete para gravar. O Edmilson pra encher o saco, quando estávamos dormindo, ele nos gravava roncando. Mas dava  um jeito de acrescentar outros barulhos. E no outro dia, acreditem, ele ligava o gravador e dizia: "ouçam como vocês roncam, só acredito porque vi". Até mesmo com a Tia Antônia, o Edmilson  fez malvadezas, gravando-a dormindo, recorrendo a sons que ele acrescentava e que eram monstruosos, mas que ele dizia serem feitos por nós, enquanto dormíamos. Me lembro que a Tia Antônia, dizia: "eu não ronco assim". Você está inventando Edmilson. E o Edmilson, com a aquele sorrizo matreiro e zombeteiro, dizia: "mãe está gravado". Mas a tia dizia: não acredito.
Oportunamente, relatarei as experiências em Campo Grande, quando morei na casa da Tia Maria.
 Augusto Daniel, Enio Ribeiro e
Alcione Gabriel  roda de carroça, 
existente em frente a minha casa (2016).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

RENATO, O NEGOCIADOR

No São Lourenço,  na década de 1970, não existia rede de energia elétrica. Os equipamentos elétricos eram movidos a pilha: rádio, farolete e toca discos de pequena potência. Televisão, apenas na casa do Tio Dé, Tio Antônio e mais tarde na casa do Tio José. fazendo uso das baterias dos veículos, normalmente, tratores. Mas era muito regrado, só determinados programas, para não descarregar as baterias eram assistidos (novela, noticiário, um jogo importante, etc).
Sendo assim, tínhamos poucas  opções de lazer. Nos finais de semana, para os homens, havia o futebol. Para as mulheres, infelizmente, as opções de lazer praticamente não existiam.
Nós, os meninos(as) e os rapazes e moças, vez por outra, dávamos um jeito organizar o nosso próprio  lazer. Para os meninos: brincar de barata, de pé na lata, gurin-gurá, aprisionar vaga-lumes durante à noite; já os rapazes e moças, cujo lazer, era de outra natureza, às vezes, brincavam de passar anel: (uma pessoa era escolhida para passar o anel. O restante dos participantes pode ficar sentado um ao lado do outro com as mãos unidas, entreabertas, formando uma concha fechada. A pessoa que estiver com o anel entre as mãos deverá passar suas mãos entre as mãos dos outros participantes.Quando estavam envolvidos, nestas brincadeiras, rapazes, moças e adolescentes, se a pessoa que estivesse passando o anel, nas mãos de um menino ou menina e estivesse por ela interessado, este passava a mão nas mãos deste participante,  de forma a revelar, algo mais...);  cai no poço, (a brincadeira de cai no poço, era feita assim: a pessoa que teoricamente estava caída no poço, dizia: "cai no poço". E o restante dizia: "quem te acode". Então ela respondia: "meu bem que pode". Então o restante dos participanetes perguntava: "quem é teu bem?" Então, a pessoa dizia o nome de um menino ou uma menina e ia dar uma volta. Lembrando que estas brincadeiras eram a noite, o que permitia, aquele contato, aquela conversa mais significativa com o rapas ou a moça que porventura estivesse interessado. No entanto, a timidez, impedia que as coisas que um dois dois queria dizer, fossem ditas. Em outras palavras, muitos foram os que perderam a oportunidade de dizer o que gostariam de dizer (rsrs). No entanto,  alguns que...deixa prá lá.
Como se vê pela narrativas, algumas das brincadeiras estava a exigir a participação de homens e mulheres. E conseguir a participação feminina, eis o grande desafio. Não era  fácil, haja vista que precisava que os pais das meninas as liberassem para brincarem.
Alguém precisava se armar de coragem e conversar com os pais das garotas. Pois bem, o Renato, em 99% dos casos, era quem fazia a difícil conversa. O Renato tinha toda uma tática. Chegava na casa dos pais das meninas, muito eloquente, simpático, e, claro muita paciência, exercitando ao máximo a lábia, já que sem uma boa conversa, nada feito. A conversa era conduzida de forma a desarmar os pais, quebrando resistências, sendo assim, o Renato  muito perspicaz,  aguardava o momento certo para fazer o pedido  aos pais das meninas para liberá-las, e por incresça que  pareça, quase sempre dava certo.
Claro que havia toda uma recomendação dos pais para que respeitássemos as meninas, que não ficássemos até muito tarde, geralmente até às 21 hs. Desta forma fomos apreendendo a lidar com as pessoas do sexo oposto.E, em alguns casos, até namoros tiveram início nestas conversas.
Pois é, Manoel Renato, estou pensando aqui com os meus botões, não por acaso, você que  cursou direito, foi lá no São Lourenço que você iniciou o curso de advocacia, impulsionado pela necessidade do lazer e por você ter um espírito de ousadia. Graças a tua ousadia, em São Lourenço, em certos momentos, vencemos o tédio e nos divertimos. Obrigado por tudo. E cá, entre nós, sob certos aspectos, pinta um espírito nostálgico, pois eram brincadeiras sadias e, até certo ponto, ingênuas, mas extremamente relevantes para a nossa convivência naquela coletividade que era rural, e extremamente, conservadora. Moral da história, você se revelou um excelente negociador. Cá entre nós, o Tio José o inspirou. Digo isso porque o Tio era um gênio para dialogar.

Assim era o lavrador

Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agríc...