segunda-feira, 27 de junho de 2022

BICLETA, PROSA O2

Espichando a prosa sobre as bicicletas no São Lourenço, me lembrei que o Eduardo tinha uma bicicleta, todavia, diferente das demais porque  o freio era acionado pelo pedal, o denominado freio de pé, movimentando-se o pedal para trás

O Eduardo com a morte de sua mãe, a Tia Neuza, foi morar com a vovó e, cultivava a sua própria roça. O primo, às vezes pegava alguma empreita (roçadas, capinagem), ganhava um dinheirinho e, como a vovó e o vovô não exigiam que ajudasse nas despesas da casa, o primo conseguia acumular alguma grana, razão pela qual foi   um dos primeiros a comprar uma bicicleta em São Lourenço.

Todavia, o Eduardo era ciumento com a sua bicicleta, cansei de pedir a bicicleta dele para dar uma pedaladas, mas o primo, negava. Porém, quando o meu pai estava por perto eu, espertamente,  pedia que ele liberasse a bicicleta pra eu dar uma voltinha, e o Eduardo, embora contrariado, acabava por concordar, até porque, o pai tinha um violão e o Eduardo gostava de tocá-lo.

COMO A LURDES GABRIEL APRENDEU ANDAR DE BICICLETA?

A Lurdes Gabriel, minha madrasta, ao ler a minha postagem  sobre a bicicleta no São Lourenço revelou que ela aprendeu andar na bicicleta em uma Monark, ano 1964, denominada pelo fabricante de brasiliana, comprada pelo meu pai. A Lurdes ao casar-se com o meu pai, em 1966, então  com 16 anos, pode finalmente aprender pedalar. Em sua narrativa a Lurdes, disse que levou apenas uma queda para aprender andar numa bicicleta. 

O CAIAU DO EDMILSON

O Edmilson tinha uma bicicleta que todos se referiam a mesma pelo nome de Caiau, cujo significado é: alguma coisa, ou objeto em mau estado de conservação.. Por aí parentes, vocês têm a ideia do que estamos falando. Era uma bicicleta velha, sem paralamas, o freio era o pé do ciclista. Nesta bicicleta, um belo dia, inadvertidamente fui dar uma volta e eis que, trombei, acredito que colidiu  com a bicicleta pedalada pelo Alberto. Nesta colisão, e o aro da bicicleta do Edmilson ficou empenadíssimo, praticamente dobrou pois, estava frágil por conta da ferrugem. Levei um sermão, e fiquei, claro, bem sem graça.

DA CARGUEIRA, QUEM ERA O DONO?

Também, o Paulinho referiu-se a alguém que tinha uma bicicleta cargueira no São Lourenço. Eu me lembro desta bicicleta, porém, não tenho certeza a quem pertencia, acredito que o dono era o Edson Daniel.

A MONARETA DA SOCORRO

A Maria Socorro, filha do Tio Celso, comprou uma bicicleta, uma monareta, a qual, deu de presente para o seu irmão o Argemiro. E o Argemiro não largava desta bicicleta. Me lembro que quando nos deslocávamos do São Lourenço até Nova América para estudarmos, na Escola Frei João Damasceno, o Argemiro ia na Monareta. Em alguns momentos provocávamos o Argemiro, quase sempre, o provocador era o Alberto, porém, o Argemiro, nos humilhava porque, apesar de pedalar uma bicicleta menor, conseguia pedalar mais velozmente do que os demais. Éramos humilhados pelo Liro Lindo.

NAQUELE TEMPO HAVIA REALMENTE CONCERTO DE BICICLETA.

Atualmente quando levamos a bicicleta  a uma mecânica de bicicletas – popular bicicletaria – para ser consertada, o mecânico, em verdade, não  a conserta coisa nenhuma, na boa, apenas troca peças.

Mas no São Lourenço, anos 1960 e 1970, lá sim, concertávamos a bicicleta. Quando, por exemplo, a porca que prendia o eixo dos pneus expanava, a solução adotada era enrolar um pano no eixo e, desta forma era possível prender a roda da bicicleta; quando a catraca da bicicleta estragava, a gente desmontava a mesma, e cortando uma perninha de um fio de aço - normalmente encontrado no cabo de aço do trator Fâmulus -, com a qual, concertávamos o macaquinho da catraca e a coisa funcionava; pneu velho furado ou rasgado, a gente cortava um pneu velho e fazia o famigerado manchão e a bicicleta tava pronta pra novas batalhas.

 COMO AS CRIANÇAS APREENDIAM A ANDAR DE BICICLETA?

Queridos parentes coloquei aqui uma foto que acredito é algo familiar para outrora meninada dos anos 1960 e 1970 e, quem sabe, também dos anos 1980. Trata-se de uma bicicleta, modelo antigo..
Lembro aos mais novos, o Brasil ao final dos anos 1950 começou a sua segunda fase industrial, em especial, a indústria automobilística, e neste período, a de bicicletas também pegou carona. Todavia, não era ainda uma sociedade de consumo, os produtos industrializados eram caríssimos, inclusive, as bicicletas. Para aprendermos a andar numa bicicleta, o primeiro desafio era ter a bicicleta. Os poucos que conseguiam tê-las, tinham tanto zelo, para não dizer ciúme, que era uma longa luta, muitas negociações  eram necessárias para conseguir autorização para pegarmos as suas magrelas, mesmo que estas pertencessem aos nossos pais.
Bicicleta modelo infantil, nem pensar. As políticas inclusivas para crianças eram impensáveis, ridicularizadas mesmo, não esquecer que vivíamos sobre uma ditadura militar e no seio de uma sociedade extremamente conservadora, onde a criança, não era vista como alguém com direitos.

Pois bem, tivemos que se adaptar ao contexto, e aprender a andar de bicicleta, todo torto, parecendo uma marmota, conforme demonstra a foto a acima. Mas éramos persistentes e aprendemos. Muitos tombos, muitos ralados, muitas broncas, mas que aprendemos, isso sim, aprendemos.

 

domingo, 26 de junho de 2022

A BICICLETA EM SÃO LOURENÇO, MIL E UM UTILIDADES

Outrora, no São Lourenço, os lavradores, dentre os quais, os integrantes da Família Ribeiro, utilizavam intensamente a bicicleta como o meio de transporte, mais precisamente na década de 1970. Antes, acredito que o cavalo era o mais intensamente utilizado. Lembrando que, Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira e alguns de seus filhos (Edson, Epifanio, Ildefonso, Celso, e Antônio) se instalaram em São Lourenço, década de 1950). Já José e Antônia, acredito,  pra lá se forma na década de 1960.

Importante destacar que a segunda fase da Revolução Industrial Brasileira ocorreu ao longo da década de 1950, mais intensamente sob o governo de Juscelino Kubitschek,  no qual, foi implantado o Plano de Metas, prometendo fazer em 05 anos o que, pelo ritmo de até então, demandaria 50 anos. As primeiras indústrias automobilísticas no Brasil, datam do final da década de 1950, porém, ao longo das décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, o carro não figurava como produto popularizado, haja vista, ser muito caro.

Em São Lourenço, Augusto Ribeiro, José Ribeiro e Edson Daniel, integrantes da Família Ribeiro, foram os únicos a comprarem veículos motorizados: caminhões, camionetas, jipes, Kombi e tratores. Os demais filhos tinham  um cavalo. como meio de trasnporte.  Ao longo dos anos 1970, alguns compraram uma bicicleta.
Em sendo assim, a bicicleta passou a ser largamente utilizada, mas mesmo este meio de transporte, nem sempre os camponeses podiam comprar. Lembrando que nas décadas de 1960, 1970, as bicicletas, comumente eram equipadas com vários acessórios: retrovisores, buzinas, farol, dínamo, almofada, bomba, garupeiras, capa cilindro e capa corrente, o que as encarecia um pouco mais. O Brasil não era ainda uma sociedade de consumo, razão  de tanta dificuldade para a população comprar produtos industrializados, dentre eles, as bicicletas.

A FAMÍLIA DE SEO ZEZÉ

Havia, uma família de Sergipanos,(Família do Seo Zezé), a qual arrendava terras de Augusto Ribeiro, onde cultivava arroz, e nas colheitas, década de 1970, nos anos de boas colheitas, um dos caprichos de alguns de seus filhos era a compra de bicicletas da marca Monark, 0 km, totalmente equipadas e, com as quais desfilavam pelas pelas estradas de São Lourenço. Os filhos de Seo Zezé que assim agiam eram: Antônio Sergipano, Bernardo e o Nivaldo. Desfilavam orgulhosos, buscando claro, impressionar as moças. No ano seguinte, eles se desfaziam das bicicletas do ano anterior e compravam outra Monark do ano.

 

GORIK A PRIMEIRA BICICLETA 

A primeira marca de bicicleta a circular em São Lourenço foi da Marca Gorik, e até onde eu sei, da Família Ribeiro, somente o Tio José comprou uma, e, o Luis Carlos (o Luisão) era o felizardo da Família que desfilava com ela. Somente na década de 1960, por conta da revolução industrial, surge a marca Monark, quando então, alguns dos filhos de Augusto Ribeiro adquirem a Monark (Epifânio, Antônio e Edson Daniel). O garoto propaganda da Monark, naquela década, era o Rei Pelé.

 

Mais tarde, o Antônio Costa, adquiriu uma bicicleta, e creio eu, na Família, se destacava porque gostava muito de pedalar, tinha uma resistência física muito grande e, creiam parentes, era difícil alguém suportar o ritmo dele. Diversas vezes veio a Dourados pedalando. Algumas vezes pedalava com a sua esposa, a Anita, na garupa da bicicleta e, creiam, num ritmo muito forte que, às vezes, outros ciclistas ainda que não levando ninguém na garupa não aguentavam.

Antônio Costa, mudou-se para Dourados, trabalhoou décadas na NOSDE ENGENHARIA, percorrendo a cidade de Dourados, todos os dias de bicicleta; também utilizava a bicicleta para os seus afazeres nas casas espiritas que prestava assistência em Dourados; e mais tarde também, para ministrar aulas de violão,o qual, colocava a tiracolo e ia até a casa dos seus alunos ministrar aulas.

Outro que se destacou por pedalar foi Antônio Ribeiro, quando veio morar em Dourados. Percorria Dourados de bicicleta, pedalou até 87 anos de idade. Não por acaso, tanto o Antônio Ribeiro e Antônio Costa, acabaram falecendo em decorrência de acidentes ciclísticos. E nem poderia ser diferente já que, ambos, nas últimas décadas de suas vidas  locomoviam-se utilizando a bicicleta.

Atualmente quem mantém a tradição é o Paulo César – o Paulinho -, o qual utiliza a bicicleta para ir ao trabalho, lazer, e também, para pedaladas longas nos finais de semana e feriados, muitas vezes,  acima de 100 km, num único dia.

No entanto, penso que fisicamente, Antônio Ribeiro e Antônio Costa, se diferenciam do Paulinho, em virtude de que, os dois primeiros, pedalavam com as bicicletas de designers antigos, as quais, atendiam menos as limitações anatômicas do ciclista. O Paulinho faz uso das bicicletas modernas que são mais leves, dotadas de várias marchas, aros mais longos, portanto, permitem maior rendimento do ciclista. Outra diferencial é que Antônio Ribeiro e Antônio Costa, sempre pedalavam sozinhos; já o Paulinho, nem sempre. Este último, lidera um grupo denominado de Bike Terapia, fazendo pedaladas coletivas, e em sendo assim, o desafio de pedalar psicologicamente é um desafio mais agradável de ser enfrentado; um terceiro diferencial é que o Paulinho realiza a luta política para que em Dourados, sejam adotadas políticas públicas que assegure o direito à cidade aos ciclistas.



A BICICLETA, UM VEÍCULO E VÁRIOS USOS.

Lembro que na segunda metade da década de 1970, vários primos da Família Ribeiro e Eu, percorríamos todos os dias 22 Kms, ida e volta, São Lourenço à Nova América, já que estudávamos neste Distrito de Caarapó, na Escola Estadual Frei João Damasceno. Nesta Escola, alguns dos primos cursaram da 5ª Série até a 8ª Série, naquele período histórico, denominado de curso ginasial, haja vista que a Escola Rural Mista de São Lourenço, ofertava tão somente o denominado, naquele período histórico, de curso primário (1º a 4º Anos). Esta caravana de ciclistas estudantes residentes em São Lourenço, além dos Ribeiros eram composta pelo Toninho e se não me falha a memória, o Roque.

Em São Lourenço, a bicicleta também era utilizada  pelos camponeses para irem aos bailes,  nas casas das namoradas, ou seja, praticamente pra tudo.

 


sábado, 18 de junho de 2022

OS JOGOS DE FUTEBOL EM SÃO LOURENÇO

Ribeiros e agregados, nesta postagem, o meu relato ainda que rápidademente se dá visando retratar, os  domingos, no velho e bom São Lourenço, nos anos 1970, em dia de jogos de futebol da equipe de São Lourenço, o Estrela Esporte Clube contra outras equipes, normalmente equipes de Café Porã, Liberal, Cerrito, Nova América e do Antônio Abílio, os arquirrivais da equipe são lourencina.

Nestes domingos, desde cedo, os jogos eram o assunto do dia, a semelhança dos jogos das equipes profissionais. Interessante ressaltar que, o fato de no São Lourenço, as opções de lazer serem pouquíssimas, estes jogos, atraíam os desportistas e boa parte dos não desportistas, especialmente os mais jovens e, mais precisamente os rapazes e moças, haja vista serem oportunidades de lazer, para rolar quem sabe, alguma paquera.

Normalmente, os rapazes e moças que  iam ao campo, não apenas com a intençção de torcerem pela equipe de São Lourenço,  mas também pra se divertirem, passavam algum creme no cabelo, via de regra,  brilhantina. Já as moças, algumas delas passavam pó de arroz do rosto e levavam sombrinhas para protegerem-se do Sol; Tanto  os apazes, quanta as moças, vestiam as domingueiras - roupas de passeio - e se dirigiam até o campo de futebol. Era bonito ver o colorido e a animação promovidos pela aglomeração dos rapazes e mocas ao redor do campo. Algumas moças, inclusive,  aproveitavam estes jogos para curtirem os jogadores das equipes visitantes, paquerando-os ainda que secretamente.

Durante o jogo, aquela gritaria típica de campo de futebol, aplaudindo e dando força para a equipe de São Lourenço e secando a equipe adversária, cujo objetivo era o de empurrar o Estrela Esporte Clube pra cima da equipe visitante e ganhar o jogo, de prefer|ência de goleada. A torcida fazia assim,  a contento o papel de  camisa 12, isto é, o décimo segundo jogador.

O time de São Lourenço era constituído, em sua maioria por jogadores da Família Ribeiro, Epifânio Ribeiro, Ildefonso Ribeiro, Edson Daniel, Luís Carlos Ribeiro, Alberto Ribeiro Bispo, Wilson Ribeiro Bispo e por arrendatários, dentre eles, os membros das Famílias Alexandre e Dionízio - Dito, Cidão; e da Familia Ricardi: Roberto, Zé Carapê e o Primitivo.

POR VIAS TORTAS, OPORUNIDADE DE LAZER PARA AS MULHERES.

Interessante destacar que, por conta do machismo vigente naquele período  histórico, as mulheres não praticavam futebol, o lazer era admitido apenas para os homens. Mas ainda assim, acabava se constituindo em um momento de lazer também  para as mulheres, que prestigiavam estes jogos. Na verdade, um pretexto para sairem de casa e prosearem com amigos e quem sabe, uma paquerinha. Mas havia moças, que os pais, muitos conservadores, não permitiam que fossem ao campo, portanto, para estas últimas, o futebol não se apresentava com oportunidade de lazer.




quinta-feira, 16 de junho de 2022

WILSON RIBEIRO, UM CASO DE AMOR AO TIME

 O Wilson Bispo Ribeiro, em um dos históricos jogos do Estrela Esporte Clube, um dos times que a Família Ribeiro criou em São Lourenço, década de 1970, em um jogo contra o Arquirrival time do Liberal, durante o jogo quebrou o braço. Todavia, mesmo sentindo muita dor, decidiu que continuaria jogando, até porque o Estrela Esporte Clube estava perdendo, o qual, apesar do sacrifício de Wilson,  acabou sendo derrotado pelo time de Liberal por 3 x 1.

Wilson, inclusive, fez o único gol do Esporte Clube Estrela. Lembrando que o Wilson chutava muito forte, tendo feito gols em chutes a longa distância (campo de defesa). A sua canhota era uma verdadeira bomba atômica.

Terminado o jogo, sentindo fortíssimas dores teve que ser  trazido imediatamente ao médico em Dourados para medicar e engessar o braço. Este relato mostra o exemplo de amor a camisa e o quanto o futebol era levado a sério pelos camponeses em São  Lourenço.

RIBEIRO SIM, MAS DE OUTRA FAMÍLIA, OU NÃO?

Apesar de carregar o sobrenome de Ribeiro, a Tia Maria Senhora, é oriunda de uma outra Família Ribeiro. Todavia ao casar com Ildefonso Ribeiro (o Tio Dé) tornou-se Ribeiro, por assim dizer, ao quadrado. Toda  Família da Tia Maria Senhora (pais e irmãos) residiam nos anos 1970, no São Lourenço, a qual, ficou amicíssima da nossa família, a outra  Família Ribeiro, de tal sorte que podemos dizer, mesma família sim

Foto de Wilson Ribeiro. Proprietário da Relojoaria Ribeiro na cidade de Dourados.

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Observação: o relato deste fato me foi feito pelo toinho (Antonio Ribeiro Filho)

domingo, 5 de junho de 2022

DONA MARIA, UMA PESSOA QUE SOFREU DEMAIS.


 Atendendo a um pedido de meu querido mano, o Paulinho,  farei um relato, superficial, é claro, sobre o comportamento de sua avó materna, a Dona Maria.

A Dona Maria, pra começo de conversa, tinha problemas mentais (demência), de que tipo, não sei dizer. Mas,  na presente narrativa o que interessa dizer é que , ela apresentava um comportamento agressivo e auto-destrutivo. Diariamente  conversava sozinha, dialogando com uma entidade invisível. Com este interlocutor, invisível ou imaginário, não importa,  a Dona Maria dialogava. Nestes diálogos, a Dona Maria alterava a voz,  usando um tom de voz quando  ela  estava falando e um outro tom, quando o suposto interlocutor, estava com a palavra.

O fato de no São Lourenço, felizmente, boa parte dos lavradores serem espiritas, as explicações  dadas para o comportamento de Dona Maria, era a de que ela estava conversando com espíritos desencarnados, talvez  um de seus inimigos,, ou um simplesmente, um espírito gozador que se aprazia em atormentá-la. 

Reitero,  Dona Maria, conversava sozinha, dia e noite. E acreditem, durante a noite, se internava na quiçaça, e, por incrível que pareça, nunca foi picada por uma cobra; também as vacas com crias (bezerros) recém nascidos, nunca a vitimaram, apesar de a Dona Maria, não ser nem um pouco prudente.  Os espíritas diziam, o seu anjo da guarda , a protege, por isso, nada de ruim a ela   acontece.

Durante a noite, quando nosso ouvido fica mais sensível, todo ruído ou som torna-se mais audível, no velho e saudoso São Lourenço, todos a ouviam, ora dialogando, ora   cantando. Isto mesmo, em alguns momentos, ela suspendia os diálogos e começava a cantar.

Nestes cantos, a Dona Maria,  fazia  referência a algumas pessoas, recorrendo a palavrões ou desqualificando-as, com uma entonação de voz que revelava estar brava e muito irritada, dentre eles,  Epifânio, Purcina, Manoel Pinheiro, Luis Baiano e outros mais. E o tom de voz dela era colérico.

Nos momentos mais críticos de suas crises, ela não se alimentava. Quando as crises eram mais intensas, apenas quando a fome estava atingindo o limite do insuportável é que, a Dona Maria, aparecia na casa de alguém, porém, na maioria das vezes, ia direto para uma janela da cozinha da vóvo Pulcina, na qual  havia anexo um girau (mesa) sobre o qual, a vovó lavava as louças. Quando Dona Maria aparecia, a vovó, sem que ela pedisse, lhe oferecia  um prato de comida ou pra ser mais exato, uma lata de goiabada (servindo como prato), porque a Dona Maria se alimentava  andando, conversando, cantando, xingando, sem fazer uso dos talheres, utilizava, pura e simplesmente, ás mãos para  comer. A vovó não servia a comida em um prato, porque sabia que a Dona Maria, raramente, o devolveria . Ela, às vezes, se dirigia até  a casa de outros camponeses, e muitos deles,  lhe serviam-lhe um prato de comida;

A Dona Maria, em seus momentos de crises,   durante as quais ficava dia e noite no mato, poe vezes,  ficava com suas vestes rasgadas. Nestes momentos, a nossa querida vovó Pulcina Ferreira dava um jeito de confeccionar um vestido   para que a Dona Maria  vestisse.

Mas, vez por outra, alguns camponeses   faziam troça dela (gozação), nestes momentos, a  Dona Maria ficava muito irritadha; os alunos que estudavam na Escolinha do São Lourenço, alguns deles, faziam gozação e, não poucas vezes, a Dona Maria correu atrás deles para pegá-los,

De modo geral, os moradores de São Lourenço a toleravam, sabiam ser ela,  vítima de  problemas mentais. Mas de todos, os moradores, sem dúvida, a vovó Pulcina  era a que mais a respeitava, nunca dirigiu-se a ela de forma agressiva e desrespeitosa. Por outro lado, a Dona Maria, sempre male dizia a vovó em seus cantos e diálogos. A vovó Pulcina a tudo relevava, porque na condição de  espírita dizia: eu não me importo, ela age assim porque está submetida a um espírito obssessor  que a persegue e a torna agressiva.

E confesso, sempre admirei e,  atualmente, admiro ainda mais, a postura de compreensão, respeito e ultra-humana da vovó Pulcina, em que pese o fato de ser analfabeta, mas extremamente letrada em humanismo e grandeza de espírito, razão pela qual sempre se referia ou se dirigia a Dona Maria de forma respeitosa e humana.

A Dona Maria em um determinado momento, acredito que na década de 1970, foi internada no Sanatório Espírita Bezerra de Menezes,  em Campo Grande, no qual,  permaneceu por diversos anos. Os seus filhos, o Otacílio, a Lurdes Gabriel (minha madrasta), o João Gabriel, a Josefa, a Rosa e a Ana, ficaram muito tristes quando do internamento dela, porém, diante do seu estado mental muito grave,  acabaram conformando-se com o envio da mãe para o referido sanatório. Este internamento ocorreu, intermediado pelos espíritas residentes em São Lourenço (Centro Espírita Allan Kardec) e também de Dourados, o Centro Espírita Amor Caridade.

Anos depois, a Dona Maria voltou, mais calma, mas não curada, em verdade, tal serenidade se dava em função dos efeitos dos psicotrópicos ministrados a ela. Decorrido algum tempo, os efeitos dos psicotrópicos cessaram  e as crises e surtos  na Dona Maria, voltaram a ocorrer. No final dos anos 1970, quando a Lurdes Gabriel, uma de suas filhas, mudou-se para Dourados, Dona Maria veio morar com ela. E por estar morando em uma cidade, a Lurdes, a encaminhou para um psiquiatra, o Dr. França, profissional que recentemente faleceu, o qual,  receitava psicotrópicos  para a Dona Maria, única maneira de acalmá-la. Mas ainda assim, em alguns momentos, as crises se manifestavam.

O que posso dizer é que o caso da Dona Maria,  comovia aos seus familiares e demais famílias camponesas mais sensivei. Lembrando que naquele tempo, as políticas públicas para  deficientes mentais não se davam da   mesma forma que se dão hoje. Era

 comum, isolá-lose castiga-los (surrá-los , amarrá-los, etc). Felizmente, em São

 Lourenço, afora as gozações, embora reprováveis, um  grave erro de quem

 as praticou, a Dona Maria, que eu

 saiba, nunca foi submetida a surras ou amarrada.8

 

Assim era o lavrador

Nos anos 1960, 1970 e 1980, quem exercia as atividades agrícolas era denominado de lavrador. Naquele período quase todas as atividades agríc...