O CENTRO ESPÍRITA ALLAN KARDEC, UMA CASA ESPÍRITA, CUJO LEGADO AINDA AJUDA NA PROPAGAÇÃO DO ESPIRITISMO KARDECISTA.

 Por diversas vezes, fiz menção aqui, neste blog sobre o importante e relevante papel que o Centro Espírita Allan Kardec, sediado outrora no São Lourenço, teve para a propagação e a territorialização do espiritismo kardecista em Dourados e Região, numa ação conjunta com os Centros Espíritas Santo Agostinho (Liberal) e o Centro Espírita Amor Caridade (Dourados). 

Estas três  Casas,se caracterizaram por atuar observando o tripé sobre o qual assenta-se o espiritismo kardecista: religião, ciência e filosofia. Claro que a meu ver, a maioria dos espíritas acabaram por atribuir maior importância ao aspecto religioso. Todavia, os dirigentes destas Casas, lograram relativo êxito na valorização do referido tripé, o que explica o porquê do espiritismo kardecista em São Lourenço ter atuado, a meu verde para uma maior coesão social da coletividade lá residente, inclusive, os não espiritas. 

No São Lourenço, alguns evangelizadores foram revelados: Ildefonso Ribeiro, Antônio Costa, Antônio Ribeiro, Lurdinha, os quais, mesmo após, o êxodo rural que levou a  praticamente 100% dos camponeses que residiam em São Lourenço a migrarem para a cidade,em especial, Dourados, uma  vez instalados em Dourados, estes evangelizadores, se incorporaram ao Centro Espírita Amor e Caridade, num primeiro momento e depois no processo fundação de outras casas espíritas para nelas,continuaram no\nobre e difícil trabalho de propagação do espiritismo kardecista em Dourados e região.

Além dos evangelizadores já citados, acrescento os nomes de minha irmã, a Alcione e o Augusto Daniel, estes dois,não atuaram como evangelizadores em São Lourenço, porém, por terem frequentado o Centro Espírita Allan Kardec  e influenciados pelos evangelizadores já citados, atualmente atuam,também como evangelizadores. A Alcione, atualmente atua como evangelizadora do Casa Espírita Bezerra de Menezes. Todavia, antes de sua incorporação a Casa Espirita Bezerra de Menezes, desempenhou o papel de  fundadora ,dirigente e evangelizadora, juntamente com o seu esposo, José Baenas, da Casa Espírita Nosso Lar, sediado na Vila Industrial. No processo de fundação da Casa Espírita Nosso Lar, a Alcione e o Baenas, se somaram ao casal Dona Joana e Benevides - este último casal se constituiu nos fundadores e dirigentes principais daquela Casa;  também menciono aqui um outro evangelizador,o Augusto Daniel,não em Dourados,mas São José dos Campos - SP. O Augusto Daniel, embora não seja dirigente, participa como palestrante e ajudando aos dirigentes em relação a questões administrativas da Casa Espirita que frequenta, em São José dos Campos.

Tanto para o Augusto, quanto para a Alcione, a experiência que tiveram em São Lourenço,contribuiu para que ambos,  anos mais tarde,assumissem com muita convicção o espiritismo kardecista. Aliás, aqui mesmo, no grupo, vocês caros primos e Tia, analisem aspostagens que são feitas pelo Augusto Daniel,  e  vejam o quanto elas refletem o grau de influência e comprometimento dele com o espiritismo kardecista.

O Relógio do Tio Miguel, sob os cuidados do Augusto Daniel

 O Augusto Daniel está de posse de um relógio de bolso (foto anexa) que pertenceu ao seu pai, Miguel Daniel, adqui8rido pelo Tio Miguel quando residia no São Lourenço.Este relógio tem no mínimo 50 anos de existência. E, segundo, Augusto Daniel, um de seus filhos,  já o indagou por diversas vezes sob o porquê de não vendê-lo, haja vista que, por ser uma relíquia pode ser comercializado por um bom valor.

Augusto Daniel, contudo disse não se desfazer deste relógio, haja vista que o mesmo tem relação com os seguintes aspectos:

a) por ser um relógio  que pertenceu ao seu pai;

b) porque até os anos 1970,não era comum as pessoas possuírem um relógio, em especial, os camponeses. A maioria dos lavradores, não  tinha relógios e administravam a sua vida: trabalhar, dormir, horário de refeições e outros compromissos, recorrendo a incidência da sombra de uma árvore, de sua casa, pela posição do sol em relação ao horizonte ou⁸ pela sucessão dos dias e das noites.

c) porque atualmente ninguém mais adquire um relógio de bolso, aliás, está ficando  cada vez mais raro as pessoas  adquirirem relógios, haja vista que todos os objetos: celular, rádio, televisão e painel dos carros são dotados de relógios. Quando as pessoas compram um relógio, compram os de pulso. Os de bolso, eu acredito que não existem mais no mercado.

Este relógio o Augusto o consertou por duas vezes, sendo que, na segunda vez, tal providência foi tomada depois deste relógio ter ficado muito tempo parado. Aliás um dos consertos foi feito na Relojoaria Ribeiro, de propriedade do saudoso Wilson Ribeiro.

Como se vê existem motivos vários para o Augusto não se desfazer deste relógio.

Augusto Daniel, não contente, guarda consigo também, um esmeril (foto anexa) utilizado no São Lourenço para amolar facas, facões, enxadas, enxadões, machados e foices. Detalhe, do esmeril restou apenas um pedaço, mas ainda assim, o Augusto o guardou, e este esmeril também tem mais 50.

Augusto, aproveito aqui para parabenizá-lo pela decisão de não se desfazer do relógio e do esmeril. Com este gesto você revela o apreço que tem pelo seu pai e pela passagem da Família Daniel pelo sofrido, mas também saudoso São Lourenço. Além do mais os objetos, servem para dar uma ideia de práticas e do modo de vida,num determinado espaço, num determinado período histórico, de uma determinada sociedade ou coletividade.

EXAME DE ADMISSÃO, QUEM SE LEMBRA ?

 

Até inicio dos anos 1970, para cursar o curso ginasial (5ª até 8ª séries - atualmente, denominado de séries finais do ensino fundamental - 6º ao 9º anos-), era necessário que o candidato fizesse o exame de admissão (um espécie de vestibular). Esta exigência era feita porque o ensino não estava universalizado, como se verifica actualmente,  no nível fundamental. Faltavam vagas, logo, havia uma prova seletiva.

Atualmente o ensino fundamental (1º ao 9º anos), está  universallizado. A toda criança e adolescente estados e municípios devem ofertar vagas, no quantitativo demandado. Claro que esta universalização é precária, haja vista que é feita com salas superlotadas e com poucas escolas públicas, ofertando uma educação de qualidade. Mas ainda assim, foi uma avanço. Ressalte-se que existe a obrigatoriedade de um lado de os pais ou responsáveis colocarem os filhos na escola, no ensino fundamental, e, de outro lado, a obrigatoriedade de os governos (prefeitos e governadores) assegurarem vagas e bancarem gratuitamente uniformes, alimentação e livros didáticos.

Em São Lourenço, alunos que estudaram na Escola Rural Mista de São Lourenço, fizeram exames de admissão para ingressarem no então curso ginasial (5ª a 8ª séries). Não me lembro a relação de todos, caso alguém queira completar, desde já, sinta-se à  vontade para fazê-lo. Eu, inclusive, agradeço. Por isso me limitarei a citar 03 exemplos de alunos que  fizeram o exame de admissão.São eles: Augusto Daniel, O Ribeiro e o Manuel Renato. Para fazerem estes exames, se minha memória, não está me sacaneando, eles fizeram um cursinho preparatório, ministrado por Ildefonso Ribeiro, na Escolinha de São Lourenço e foram bem sucedidos nos exames. Conseguiram ingressar na Escola Estadual Presidente Vargas. 

Aliás, a vó Pulcina, não escondia o seu orgulho e contentamento com os elogios que os professores e amigos da Família Ribeiro, rasgavam em relação a Escola Rural Mista de Sâo Lourenço e aos professores Ildefonso Ribeiro e Maria Sinhá, pelo sucesso e excelente desempenho dos alunos oriundos desta Escola em Dourados. A esse respeito, o Chicão (Francisco Barcelo), me confidenciou numa conversa privada que tive com ele de que, nos anos 1970, alunos e ex-alunos oriúndos da Escola Rural Mista de São Lourenço, tinham 99% de chance de serem contratados pelas empresas, nas quais, batessem a porta, a procura de emprego, por conta do excelente conceito desta Escola junto ao empresariado douradense.

TIO JOSÉ, HABILIDOSO, INTELIGENTE, UM MESTRE PARA DIALOGAR.

Ilton, você pediu para que eu escrevesse algo sobre a trajetória do Tio José. Quero recomendar a você, a leitura do livro: "Gaveta do Tempo", de autoria do teu pai. Acredito que não tenho muita coisa a acrescentar, haja vista que o Tio Dé, foi fundo nos relatos da trajetória do Tio José, desde a sua infância até praticamente o seu falecimento.

No entanto, ousei nesta postagem, colocar a minha percepção sobre o Tio José. O que eu tenho a dizer, conforme muito bem descrito por Tio Dé, em a "Gaveta do Tempo", é o que o Tio José, além de muito inteligente, observador e perspicaz tinha uma grande habilidade para dialogar, inclusive, com pessoas que pensavam diferentemente dele e até mesmo com pensamento antagónico, especialmente, no campo politico.

Isto posto quero dizer que o Tio José, sabia como conduzir uma conversa junto às

 pessoas com pensamentos divergentes ou hostis. Não por acaso, sendo um militante de esquerda (marxista-leninista) dialogava e muito com os representantes políticas caaraponeses e douradenses e, nestas conversas, expunha o quanto eles estavam equivocados em suas posturas políticas.

O Tio José sobre os políticos que se diziam de oposição à Ditadura Militar implantada em 1964, a qual, adotou o sistema bi-partidário: Alianção Renovadora Nacional (ARENA), Partido da Situação e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido supostamente oposicionista ao regime. Na verdade, não existia partido oposicionista, haja vista ter  sido, os dois partidos, criados pelos próprios ditadores de plantão. O MDB, em verdade, era a oposição consentida.

Todavia, a oposição democrática, progressista e de esquerda, incorporou-se ao MDB e esta Partido acabou por se constituir com o passar do tempo em um partido de fato, oposição ao regime.

Todavia, nas cidades do interior brasileiro, Caarapó e Dourados, figuravam nesta lista, estas  eram extremamente conservadoras. Por conta disso, nas disputas eleitorais, na maioria das cidades do interior brasileiro os ditos oposicionistas não se alojavam no MDB e sim na Arena. Por conta disso, a Arena nos pleitos eleitorais era subdividida  em Arena 01 e Arena 02. Arena 01, situação e Arena 02 oposição. 

Pois bem, o Tio José, ao dialogar com estes políticos que se diziam oposição dizia, se vocês querem realmente ser de oposição devem estar no MDB e não na Arena. O Tio José, os colocava numa saia justa. Mas o fazia isto com tanta maestria que continuava tendo com eles boas relações.

Em São Lourenço, muitos dos serviços prestados e obras realizadas, só ocorreram devido a boa articulação política de Augusto Ribeiro e também do Tio José com os representantes políticos em Dourados e Caarapó. Muitas pessoas, nunca souberam disso, Ilton, mas esta é a verdade nua e crua. O trânsito político do Tio José, suas experiências anteriores no movimento sindical, partidário e o fato de ter sido vereador na região de Maringá, antes de vir morar em São Lourenço, foi de grande valia para estabelecer boas relações com os representantes políticos, cujos resultados se traduziram em benefícios para toda a colectividade do São Lourenço. 

Muito embora, os camponeses, não tenham conseguido tudo o que desejavam em São Lourenço, muito do que conseguiram, jamais o teriam conseguido, não fora esta habilidade política o Tio José.

TIO JOÃO, CONFESSO, PARTICIPANDO FORMALMENTE DA POLÍTICA, ISTO EU NÃO SABIA!!!

 Esta semana, o meu irmão Paulinho (Paulo César), em visita feita ao Tio João Ribeiro e as suas filhas (Suly e Sônia), Maringá e Flórida no Paraná, em conversa pra lá de informal com o Tio João, ouviu dele,  o relato de que em algum momento de sua vida,  se envolveu formalmente com a política.

Tio João afirmou que tentou se candidatar como prefeito pela UDN, todavia, os caciques do Partido, se articularam para inviabilizar a sua candidatura e ele acabou se lançando como vereador.

O Tio João, demonstrando coerência enfatizou que num regime democrático, todos nós, de uma maneira ou de outra nos envolvemos com a política, pois, parte do entendimento de que as nossas necessidades e demandas são atendidas ou não, em consequência das ações humanas, portanto, todas as ações humanas, queiramos ou não, resultam como sendo, ações políticas e tem consequências.

No entanto, a participação política em um Partido Político e se apresentando como candidato, isto é, formalmente, o Tio João, revelou que ocorreu por influência do seu irmão, o José Ribeiro.

O Tio José, só para elucidar melhor esta postagem, anteriormente havia trabalhado como operário em São Paulo, e neste período, participou do movimento sindical e se convenceu do quanto é necessário os trabalhadores entenderem que a participação política dos mesmos, deve ser para além de informal, ou seja, formalmente, já que faz muita diferença. Anos mais tarde, o Tio José foi morar no Paraná, e nesta convivência, acabou por influenciar o Tio João e de resto os seus demais irmãos: Epifânio, Antônio, Ildefonso e até mesmo o Tio Celso a perceberem a política sob outra perspectiva.

Aliás, o nosso avô, Augusto Ribeiro, por onde morou, sempre dava um jeito de se aproximar dos representantes políticos da cidade ou do lugar onde morava, e em alguns momentos, inclusive, filiava-se a um Partido Político, porque entendia que desta forma poderia ter uma ação mais exitosa nas reivindicações que apresentasse. Assim, por exemplo, o fez em sua rápida estada em Itaporã, e da mesma maneira, agiu quando foi residir em São Lourenço. 

Detalhe: a construção da Escola Mista Rural Mista de São Lourenço, em sua última versão (alvenaria), se deu graças a um compromisso que Augusto Ribeiro, fez com o então candidato e vencedor das eleições em Caarapó, na década de 1970,  Armando Campus Belo, de qye  o apoiaria e nele votaria, mediante o compromisso do então candidato, de uma vez eleito, providenciar a construção das instalações da Escolinha  do São Lourenço, sob a forma de alvenaria. Armando Campus Belo foi eleito e cumpriu com a palavra empenhada.

Tio João, durante a entrevista

Mas mesmo sabendo destas características de Augusto Ribeiro, a revelação feita pelo Tio João ao Paulinho, não nego, pra mim foi uma surpresa.

MINHA OPINIÃO SOBRE O PAPEL DA FAMÍLIA RIBEIRA EM SÃO LOURENÇO

 Na presente postagem me esforçarei para relatar um pouco da minha percepção da rica experiência da família Ribeiro e demais camponeses em São Lourenço, especialmente, no período que engloba as décadas de 1950, 1960 e 1970, período no qual, a fazendinha do casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, se constituiu numa espécie de sede do poder político do São Lourenço, comprova isso o fato de nela estarem sediados, a Casa Espírita Allan Kardec, a Escola Rural Mista de São Lourenço, os campos de futebol, o pequeno armazém do vovô e a maioria das pessoas que desempenharam o papel de agente de saúde (Ildefonso, Pulcina, Maria Sinhá) e assistente social (Ildefonso Ribeiro, Epifânio, Antõnio Costa, Edson Daniel).

O fato de a estrutura de saúde, lazer, religião, assistência social, educação, abastecimento popular, estar localizada na propriedade do Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira não foi casual, se deu basicamente pelos seguintes fatores:

a) O casal Augusto Ribeiro e  Pulcina Ferreira, tinham mais posses do que os demais camponeses, inclusos, entre eles, os próprios filhos. Esta melhor situação económica permitiu ao casal assegurar uma infraestrutura para a oferta dos serviços relacionados. O casal cedeu terrenos para construção da escola, da casa espírita e dos campos de futebol;

b) o grau de instrução da Família Ribeiro que, exceptuando-se a vovó, todos os demais, sem exceção, sabiam ler, fazer as quatro operações matemáticas, acompanhavam via rádio e jornais os assuntos de natureza política, económica e social nos planos nacional e local. Parte dos filhos do Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira, tinham concluído o ensino primário, portanto, para o Brasil então um país predominante rural, contar com o quarto ano prímário eral algo notável. Não por acaso, dois membros da Família Ribeiro (Ildefonso e Maria Sinhá), se tornaram professores das crianças e adolescentes na Escola Rural Mista de São Lourenço e tem a ver com este grau de intelectualidade já referido.

 E a vovó, se  não era alfabetizada, por outro lado, apropriou-se de um conhecimento profundo se pensado em aspectos filosóficos, humanos e espirituais e, era uma intelectual formada na Universidade da Vida e que grandes contribuições deu para a saúde pública e para a melhor convivência familiar dos filhos e demais camponeses. Aliás, quando uma família estava em conflito, a vovó, sempre acabava atuando de forma a contribuir para a superação dos mesmos, em virtude de sua autoridade moral;

c) o fato de parte de seus membros terem abraçado o espiritismo kardecista, em muito, influenciou a Família Ribeiro a pensar ações em prol da colectividade e  não esperar acontecer;

d) o fato de inclusive, Augusto Ribeiro, atuar na esfera política, a este respeito, os relatos feitos pelos livros escritos por Ildefonso Ribeiro, não deixam dúvidas, nos quais, relata que nos lugares onde morou, Augusto Ribeiro se vinculava a um partido político ou se aproximava dos representantes políticos, porque - grifo meu - partia do entendimento de que,  todos nós, se quisermos atingir determinados objetivos, especialmente, os de interesse da coletividade, precisamos nos articular politicamente;

Estes fatores, evidentemente, credenciaram e legitimaram a Família Ribeiro, a liderar os camponeses visando o atendimento de demandas diversas: lazer, religião, saúde, educação, abastecimento popular, reivindicações. Em sendo assim, na Fazenda do Casal Augusto Ribeiro e Pulcina Ferreira estava sediado o poder político e econômico do São Lourenço. E um detalhe, a meu ver importante: estes serviços, por conta destas características possibilitou aos camponeses em São Lourenço desfrutarem destes serviços, apesar da omissão da Prefeitura, primeiramente de Dourados e depois da Prefeitura de Caarapó;

Em síntese, a Família Ribeiro foi protagonista de um novo jeito, isto é, arranjo político no velho e bom São Lourenço, o qual, no período relacionado, caracterizou-se pela transição de práticas de extrativismo vegetal (erva mate) e animal (caça) para a prática de atividades agrícolas, sob a forma de agricultura familiar. A própria Família Ribeiro, teve que apreender noções elementares de  agricultura familiar, fazendo. E o Tio José, teve um papel destacado em apontar rumos aos camponeses em São Lourenço de como agricultar a terra viável, em alguma medida, sob o aspecto comercial. 

FUTEBOL INFANTIL, SÃO LOURENÇO ESTEVE NA VANGUARDA

 Aqui vai mais um capítulo sobre o futebol em São Lourenço, tendo como foco a equipe infantil, ou melhor, dente de leite, que segundo o Augusto Daniel, foi denominada de Cruzeiro. O uniforme da agremiação infantil era azul. O seu técnico, Epifânio Ribeiro.

Esta equipe fez a sua estréia jogando contra a equipe de dente de leite, liderada pelo Srº Alfredinho, o qual, morava em Dourados,  um comerciante,  se não me falha a memória,  proprietário de um posto de gasolina.

O  Seo Alfredinho tornou-se muito amigo da Família Ribeiro, haja vista que também era praticante do espiritismo kardecista. O jogo de estreía ocorreu no São Lourenço, no campo de futebol de terra, que estava sediado nas imediações da casa do Tio José. Quanto ao placar - deixa pra lá - perdemos. Mas a derrota não ofuscou o brilho da ousadia de em pleno sertão ser constituída uma equipe de futebol dente de leite. 

Epifânio Ribeiro não só teve a ideia como liderou o movimento e as articulações para fundar a equipe de dente de leite, empreitada para a qual contou com o apoio pra valer,  de Edson Daniel, que disponibilizou a camionete Willys para transportar os atletas em jogos que foram realizados fora de São Lourenço.

Me lembro que além da equipe de Seo Alfredinho, dois jogos, um em São Lourenço, outro em Dourados, jogamos também contra uma equipe do Café Porã, e o Augusto Daniel faz referência a um  jogo que fizemos contra o Corinthians de Nova América, equipe que era presidida pelo Zé Corinthians.

Foram poucos jogos, haja vista não ser tradição, Brasil afora, a existência de equipes infantis, especialmente nos sertões, situação de São Lourenço, pesando, enormemente a questão econômica, até porque os atletas sendo menores, não tendo renda, e, não raro não contavam com o apoio dos país, a autos-sustentação da equipe ficava muito difícil. 

No caso específico de São Lourenço, esta dificuldade foi vencida pelo ação voluntariosa e despreendida de Epifânio e o Edson Daniel, que bancaram os custos com a equipe. Todavia, outra dificuldade surgiu, não existiam em São Lourenço e região equipes infantis. Até mesmo em Dourados, era rara a existência de equipes infantis. Por conta disso, a equipe infantil em São Lourenço teve uma curta existência, todavia, a sua simbologia se eternizou nas mentes de todos nós, então crianças e que fizemos parte daquela equipe.

O meu pai, tinha uma sensibilidade muito grande para com as crianças, em especial, os sobrinhos e sobrinhas, razão pela qual ocorreu esta ação ousada e eu diria até certo grau revolucionária de fundar o Cruzeiro, uma equipe infantil. Se alguém tiver foto desta equipe, peço a gentileza de postar aqui no grupo.

Em síntese, posso dizer o seguinte: o vanguardismo em São Lourenço se verificou relacionado a diversas demandas e serviços: religião (Centro Espírita Allan Kardec); Educação ( Escola Rural Mista de São Lourenço); abastecimento popular (o armazém do vovô); a constituição de uma espécie coletivo - embora não formalmente - de assistência social e saúde, coletitvos constituídos porTio Dé, Vovó, Tia Sinhá, Dona Joana e outros) que se responsabilizaram por fazerem partos, aplicação de injeções, pequenas cirurgias, benzimentos, datilografar alguns documentos (documentos datilografados por Tio Dé, em sua pré-histórica, maquina de datilografar, uma Remington, com a qual datilografou documentos que em alguns momentos foram demandados pelos camponeses). A Família Ribeiro ao desenvolver este conjunto de ações se caracterizou por uma postura vanguardistas, as quais, se materializaram em políticas públicas bancadas pela própria comunidade, haja vista que, o Poder Público (Prefeitura e Governo Estadual), nas décadas de 1950, 1960 e 1970 se caracterizaram pela quase completa omissão em ofertar serviços demandados pelos camponeses: lazer, escola, saúde, abastecimento popular, manutenção de estradas e outras demandas.

JOGOS DE FUTEBOL EM SÃO LOURENÇO: de tudo um pouco: lazer, namoros, leves desentendimentos, vida social

 Lá no velho e bom São Lourenço, havia dois times: o Time dos Titulares e o Time dos Aspirantes (reservas). Pejorativamente o time de aspirantes era denominado de cascudo. Os demais times da região: Liberal , Café Porâ, Nova América e outros, também, se organizavam em dois times - titulares e aspirantes. Os aspirantes faziam o primeiro jogo, por isso, também eram denominados de "esfria sol".

Quando ocorria da equipe adversária  que havia acertado de ir até ao São Lourenço, não vir,organizava-se dois times aproveitando os atletas dos times de Titulares e Aspirantes. Todavia, Epifânio Ribeiro, o técnico dos dois times, adotava a seguinte providência:   o ataque do time titular era escalado para jogar pelo aspirante, pois, desta forma confrontavam-se com os defensores do time titular. Nstes momentos, Epifânio Ribeiro procurava fazer observações e correções em falhas verificadas tanto em relação aos atacantes quanto aos defensores.

E a torcida dava o seu show - rapazes e moças - que não eram atletas, vestiam as suas melhore roupas (as domingueiras), utilizavam perfumes e cosméticos, visando ostentar a melhor imagem e impressionar o sexo oposto. É claro que alguns namoros ocorreram, isto é, receberam um "empurrâozinho", graças aos eventos esportivos.

Portanto, os jogos, se constituíram simultaneamente em momentos de lazer, de descontração, namoros e, excepcionalmente, de alguns desentendimentos - quando os ânimos dos atletas exaltavam e algumas brigas acabaram por ocorrer, todavia, sem atingir um grau tão extremado, felizmente -, logo cumpriram papel importante para a convivência social e para consolidar o espírito comunitário e de cumplicidade entre camponeses e camponesas. Notem bem, mesmo, não havendo jogos femininos, muitas moças iam ao campo e lá se divertiam, e por vezes, pintava alguma paquera. Mas havia, também as moças que não iam ao campo porque, os pais, não permitiam que fossem, afinal de contas, o Brasil até os anos 1970, contava com uma população maioritariamente rural e conservadora, inclusive, no Velho e Bom São Lourenço.

ESPIRITISMO x FUTEBOL em São Lourenço

 Dando continuidade as minhas postagens sobre times de futebol em São Lourenço e o Centro Espírita Allan Kardec, na presente postagem, acrescento este relato:

a) Tio Antônio em algum momento,  figurou como um dos estimuladores da equipe de futebol São Lourenço, todavia por conta de um desentendimento que teve no jogo realizado entre a equipe do São Lourenço e o Corinthians de Nova América, na qual, sendo mais claro, ocorreu uma briga generalizada, o Tio Antônio procurando ser plenamente coerente com a filosofia espírita, entendeu que deveria se afastar, ficando a frente da equipe de São Lourenço, apenas os seus irmãos, Ildefonso e Epifânio que relativizaram a briga e entenderam que apesar do mesma ter ocorrido, ainda era válido continuarem promovendo a prática do futebol em São Lourenço. O Tio Antônio, segundo afirmou o Toinho, estava com 30 anos de idade.

No entanto, o Tio Antônio participou décadas mais tarde,  na cidade de Dourados de uma confraternização dos espíritas kardecistas, reunindo integrantes das diversas casas espíritas do município, jogando no gol, aliás a sua posição - registre-se era um excelente goleiro. Ainda de acordo com o Toinho, Tio Antônio  conseguia arremessar com muita força e velocidade a bola, utilizando apenas as mãos e neste jogo, fez um lançamento para o Mathias, ex-genro do Tio, o qual, cabeceou a bola e  o Toinho que também estava jogando fez o corta luz, gol que assegurou a vitória da equipe, na qual, o Tio Antônio estava jogando.

Detalhes: neste jogo o Toinho quebrou um dedo de sua mão direita por conta de uma bola dividida.

Perceba pelos relatos até  aqui feitos , os desdobramentos e a relação  entre futebol, os espiritas e a Famíla Ribeiro. Esta ação combinada pró-8futebol e espiritismo, iniciada em São Lourenço e que em alguns momentos teve continuidade em Dourados, atestam que religião e o esporte não são incompatíveis, pelo contrário ambas se benefeciam mutamente.

O GRANDE SONHO DOS ESPÍRITAS KARDECISTAS RADICADOS EM DOURADOS, FINALMENTE CONCRETIZADO-.

 Hoje tive a grata satisfação de passar em frente ao Educandário Espírita Allan Kardec de Dourados, diga-se de passagem, as suas instalações são exuberantes, instalações que a meu ver, são adequadas para a organização do trabalho pedagógico, apropriação e produção do conhecimento técnico científico, humano,  cultural  e capaz de contribuir para a superação dos desafios de natureza diversas, colocados para a sociedade douradense e sul-mato-grossense no século XXI,  focado especialmente na criança e no ensino fundamental.

E sabendo o quanto os espíritas kardecistas se empenham em pensar a educação sob diversos aspectos, quais sejam, material e espiritual, humanista,solidária, fraterna, valorizadoras da filosofia e ciência , é de se esperar, a oferta de um ensino de boa qualidade. A seguir alguns registros sob a forma de fotos que fiz do referido Educandário.

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E anexei a esta postagem a deliberação do Conselho Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul (CEE/MS)
DELIBERAÇÃO CEE/MS N.° 12.628, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2022 - credencia o “Educandário Espírita Allan Kardec”, localizado no município de Dourados, MS, para oferecer a educação básica e autoriza o funcionamento do ensino fundamental, na referida instituição de ensino, pelo prazo de cinco anos, a partir de 2023. Publicada no Diário Oficial do Estado n.º 11.020, de 22/12/2022, pgs. 24 e 25.

Observação: O desafio é enorme, porém, conhecendos os princípios coodificados por Allan Kardec e que norteam a prática dos espiritas kardecistas, acredito que este empreendimento em sua nova fase, sem dúvida, será coroado de êxito.

CUMPLICIDADE, SEMELHANÇAS E RIVALIDADES ENTRE SÃO LOURENÇO E LIBERAL

 Ainda sobre o futebol em São Lourenço, nas décadas de 1960 e 1970, o time de São Lourenço, por diversas vezes enfrentou o time de Liberal. E aqui vou reproduzir um comentário feito pelo Toinho. a partir de uma postagem que fiz sobre o Zé De Paula, o qual, com o seu caminhão por diversas vezes trasnportou a produção de arroz de meu pai até Dourados, Cidade na qual, Epifânio Ribeiro vendia a sua colheita. Acredito que o Zé de Paula tenha transportado a produção de outros lavradores residentes em São Lourenço.

Pois bem, o Toinho disse que teve a honra de jogar bola com os  filhos do Zé de Paula, a saber o Polaco e  o Zé Bezerra. Além destes dois jogadores, o Toinho se referiu a outros atletas da equipe de Liberal, o Churiba e o Civuca, estes dois últimos não eram filhos de Zé de Paula. 

Eu aproveitei e acrescentei  a lista iniciada pelo Toinho, outros atletas. São eles:  Zé da Mata, jogador muito veloz, não era tão habilidoso, porém com o seu fôlego intenso, apresentou dificuldades, nem sempre contornadas pela equipe de São Lourenço; cito também o Atílio e o Dirço - dois irmãos - ambos atuavam como goleiros; o Atílio também jogava na linha, até porque jogando na mesma equipe, o Atílio não sendo tão bom goleiro,  quanto Dirço, recorrendo a uma gíria popular, teve que "espirrar"  e jogar na linha. O Atílio, tinha um chute com o peito de pé, extremamente potente, um petardo.

Não preciso dizer que a rivalidade entre as equipes de São Lourenço e Liberal, assemelhava-se a rivalidade que existe entre Cortinhians e Palmeiras ou Flamengo e Vasco. Vencer, vencer,  vencer, eis o que importava. 

Liberal, São Lourenço e o Espiritismo Kardecista.

Aliás Liberal e São Lourenço, além do futebol, também se caracterizaram por sediarem as casas espirtas, Santo Agostinho e Allan Kardec, respectivamente. Segundo relato feito por Tio Antônio em 2017, a minha irmã, a Alcione, o Centro Espírita Allan Kardec, foi criado sob a influência do Centro Espírita Santo Agostinho; e o Tio, disse mais, o Centro Espírita Santo Agostinho organizava os estudos do espiritismo kardecista totalmente fiel ao princípios preconizados por Allan Kardec, isto é, sem sincretismo. Nesta Casa Espírita, não havia espaço para sincretismo religioso, qual seja, incorporar rituais e práticas, ainda que minimamente, do espiritismo de matriz africana. E o Tio Antônio foi taxativo, em sustentar que em São Lourenço, a Casa Espirta Allan Kardec se inspirou plenamente na Casa Espírita de Liberal, desde a sua fundação. Não por acaso, diversas eventos, congressos, encontros e estudos foram realizados em parceria entre as duas Casas Espíritas. Detalhe: somou-se a estas duas casas, inúmeras vezes, a Casa Espírita Amor e Caridade, esta última, sediada em Dourados. Aliás, das 03 é a única que ainda existe. As Casas Espíritas de São Lourenço e Liberal, devido ao êxodo rural, intenso, acabaram por serem desativadas, contudo, as casas espíritas, existentes em Dourados, inclusive, dentre elas,  Centro Espírita Amor e Caridade, abrigaram os espíritas oriundos de São Lourenço e Liberal, e não raro, os espíritas destas duas casas, se tornaram dirigentes e evangelizadores das casas espíritas sediadas em Dourados.